Pouco depois das 19h00 de domingo (27), o trem expresso Allegro procedente de São Petersburgo chegou à capital finlandesa e, com ele, a última ligação ferroviária entre a Rússia e a União Europeia (UE), um mês após o início da invasão russa da Ucrânia.
A operadora de trens finlandesa VR anunciou na sexta-feira a suspensão do serviço Allegro, que desde a ofensiva russa contra a Ucrânia esgotou todas as suas passagens, com muitos cidadãos russos querendo deixar o país antes que as sanções ocidentais o tornem impossível.
“Agora que peguei meus gatos, não tenho motivos para voltar, tenho tudo o que é valioso para mim”, disse Alex, que revelou apenas seu primeiro nome. Este moscovita, que vive em Helsinque há vários anos, desceu do trem com uma caixa contendo seus dois animais de estimação.
“A situação na Rússia tornou-se mais complicada”, declarou à AFP Alex, um estudante universitário que viajou com sua mãe de Moscou, onde estuda, para sua casa em Portugal para as férias da Páscoa.
Ele terá que retornar à capital russa para as provas em algumas semanas. “Não sei como vou voltar a Moscou, veremos como essa situação se resolve”, acrescentou.
Apesar da falta de estatísticas oficiais, milhares de russos teriam deixado seu país desde a invasão.
Com o espaço aéreo europeu fechado para aviões russos, aqueles que querem deixar a Rússia se voltaram para voos via Turquia e Belgrado, bem como por rodovias e ferrovias.
Após a invasão de 24 de fevereiro, cerca de 700 passageiros por dia lotaram os trens para a Finlândia e o serviço permaneceu operacional, a pedido de Helsinque, para permitir que os finlandeses na Rússia saíssem se assim o desejassem.
No entanto, o governo disse à VR na quinta-feira que “o serviço operacional não é mais apropriado” à luz das duras sanções contra a Rússia e que todos os trens seriam cancelados a partir desta segunda-feira (28).
Símbolo
Administrado em conjunto por companhias ferroviárias finlandesa e russa, o trem Allegro se tornou um símbolo da parceria entre os dois países quando foi inaugurado em 2010.
O presidente russo Vladimir Putin e sua então colega finlandesa Tarja Halonen viajaram no serviço inaugural, que reduziu o tempo de viagem em duas horas para 3 horas e meia no trajeto de 400 km entre Helsinque e São Petersburgo.
“Espero que volte a operar normalmente muito em breve”, comentou Alija, uma mulher de 50 anos que trabalha em Helsinque, mas visita regularmente amigos e familiares em São Petersburgo.
A interrupção do serviço tornará a vida mais difícil, mas “as pessoas encontrarão uma maneira de fazer a viagem se tiverem oportunidade”, acrescentou.
Embora muitos russos tenham tentado partir desde o início da guerra, o trem Allegro para Helsinque é aberto a poucos.
Moscou estipula que os passageiros devem ter nacionalidade russa ou finlandesa e é necessário visto, bem como prova de uma vacina anticovid reconhecida pela UE, e não a vacina Sputnik, que é a mais comum na Rússia.
A maioria dos passageiros que chegam à capital finlandesa são russos que vivem, trabalham ou estudam na Europa.