Após dois dias de debates, o Parlamento da Finlândia aprovou nesta terça-feira (17) a proposta do governo para que o país se candidate a entrar na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). O governo formalizou a intenção de entrar na aliança militar no domingo (15), mas precisava da aprovação do legislativo finlandês.
Também nesta terça, a ministra sueca das Relações Exteriores, Ann Linde, assinou a carta em que o país irá solicitar para a adesão à Otan. O pedido sueco, porém, deverá ser encaminhado à aliança militar junto com a Finlândia, país vizinho, o que deve acontecer nos próximos dias.
Para ingressar na organização, os dois países precisam da aprovação unânime dos Estados-membros, e o único a se opor publicamente é a Turquia, que acusa ambos de dar abrigo a supostos “terroristas” curdos. No entanto, os outros integrantes da aliança já se mostraram confiantes de que podem convencer o governo turco a não vetar Finlândia e Suécia.
O movimento é decorrente da guerra russa no território ucraniano, que nesta terça-feira (17) entrou em seu 83º dia. A Ucrânia sofreu ataques em uma cidade a 75 quilômetros de Kiev, capital do país, e na região de Lviv, ao oeste, já perto da fronteira com a Polônia.
E, no momento em que Finlândia e Suécia dão andamento ao processo para ingresso na Otan, a Rússia decidiu sair do Conselho dos Estados do Mar Báltico. Do grupo, com 11 Estados-membro, apenas Finlândia, Suécia e Rússia não integram a Otan, quadro que agora deve mudar com as candidaturas sueca e finlandesa para ingressar na aliança militar.
Segundo o ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, a organização se tornou um “instrumento de políticas” contra Moscou e de “russofobia”. “Nossa presença no CBSS é contraproducente”, acrescentou.
O Parlamento finlandês autorizou o pedido do governo para que o país entre na Otan após a Comissão de Assuntos Externos ter indicado hoje que aprova a entrada na aliança militar, ao dizer que “a situação [na Ucrânia] exige medidas para reforçar a segurança da Finlândia”.
“A política externa de longa data da Rússia, baseada na força militar, e o objetivo declarado de uma estrutura de segurança baseada na divisão de interesses na Europa, ganhou uma nova dimensão com o lançamento da guerra de agressão contra a Ucrânia”, destacou a comissão.
Foram 188 votos a favor da aprovação do relatório da comissão, com oito votos contrários. “O Parlamento também exige que receba informações atualizadas sobre o andamento do pedido de adesão”, disse a área de comunicação do legislativo finlandês, citando uma demanda que estava no relatório da comissão.
O texto da comissão indicou que, na Otan, “o efeito preventivo da defesa da Finlândia seria consideravelmente maior do que atualmente, pois seria respaldado pelas atuações de toda a aliança”.
“No contexto de uma significativa deterioração da segurança, considerada de longa duração, a Comissão considera importante para este efeito a confirmação da adesão à Otan. Das opções que aumentam a segurança, a adesão à Otan oferece uma forte proteção adicional para a segurança da Finlândia devido ao seu efeito de dissuasão militar”, disse o relatório. “É uma solução que reforça a defesa da Finlândia e a defesa coletiva da Otan.”
O relatório também rejeita a possibilidade de presença de bases da aliança militar ou de armas nucleares na Finlândia, umas das preocupações da Rússia. “A comissão afirma que é extremamente improvável que a Otan sequer proponha ou considere investir em armas nucleares na Finlândia”, disse o texto, indicando que a aliança militar “visa um mundo livre de armas nucleares”.
Carta “histórica” na Suécia
“Acabei de assinar uma histórica carta de indicação do governo sueco para o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg. Nossa candidatura à Otan está agora oficialmente assinada”, disse a ministra das Relações Exteriores do país, Ann Linde.
Segundo a chanceler, a candidatura sueca deve ser enviada junto com a da Finlândia nos próximos dias. “Não sabemos quanto vai durar [o processo de adesão], mas calculamos que pode levar até um ano”, acrescentou a ministra.
A Suécia quer entrar na aliança militar para “garantir a segurança do povo sueco”, como disse ontem a primeira-ministra, Magdalena Andersson.
Neutralidade quebrada
Suécia e Finlândia são integrantes da União Europeia, mas historicamente se mantiveram neutros entre o Ocidente e a Rússia. No entanto, a invasão à Ucrânia os fez repensar seu status de neutralidade, principalmente a Finlândia, que compartilha 1,3 mil quilômetros de fronteira com o território russo. A Suécia vinha se mostrando mais reticente, porém a adesão finlandesa a tornaria o único país do Mar Báltico fora da Otan.
A Finlândia, por sua vez, foi parte do Império Russo por mais de um século e conquistou sua independência em 1917. Os dois países compartilham atualmente cerca de 1,3 mil quilômetros de fronteiras. No entanto, após a Segunda Guerra Mundial, decidiu não ingressar na Otan para não se indispor com a então União Soviética e depois com a Rússia, apesar de ter se tornado membro da União Europeia em 1995.
Líderes de Suécia e Finlândia terão um encontro com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na quinta-feira (19).