O professor de economia internacional do Insper Roberto Dumas declarou, em entrevista à CNN, que os setores de carros e calçados no Brasil devem sofrer com a crise econômica na Argentina.
O país latino-americano sofre com a inflação batendo quase 70% e com aproximadamente 40% dos argentinos vivendo abaixo do nível da pobreza, além de uma taxa de juros a 52%, seu nível mais acentuado desde 2019.
“Felizmente, o Brasil não está tão conectado com a Argentina, como era no passado”, diz o especialista. “Mas alguns setores [ainda] devem sofrer”.
Dentre as preocupações de Dumas está a nova ministra da Economia da Argentina, Silvina Batakis, que pode colocar algumas restrições para a saída de capital do país.
Vale destacar que ela é conhecida por ser uma aliada de Cristina Kirchner, que defendeu sempre à emissão monetária e eventualmente o tabelamento de preços.
Antes de Silvina assumir, foi decidido uma medida para que toda importação de sapatos provenientes do exterior, principalmente do Brasil, teria um prazo de pagamento de 180 dias.
O professor afirmou também que o país vive “exatamente o que nós (brasileiros) vivemos antes do plano real“. Já que a emissão da base monetária em doze meses foi de 45%.
“E não adianta usar muito mais caixa de juros para controlar [os preços]. Se uma inflação bater 70% e ir para 80% ou 90%, fica inócuo [subir] a taxa de juros para 120%.
Então, para Dumas, a Argentina precisará de um plano heterodoxo, mudando sua moeda – que hoje é o peso, “semelhante ao que fizemos no plano real”. Ou seja, fazer uma âncora cambial para endereçar o problema da inflação, semelhante à Unidade Real de Valor (URV).
“Essa seria a única saída por enquanto”, diz o professor. “Se piorar, eles devem acompanhar como aconteceu com o Equador, uma dolarização da economia”.
“Vamos ver o que o próximo presidente fará. Mas se ele continuar peronista, dificilmente sairão da crise”. A próxima eleição na Argentina está marcada para 2023.
*Sob supervisão de Ludmila Candal