Além disso, a estatal ressaltou que acompanha as variações do valor do produto e da taxa de câmbio, seja ela para cima ou para baixo. “As distribuidoras, por sua vez, transportam e comercializam o produto para as companhias aéreas e outros consumidores finais nos aeroportos, ou para os revendedores”, afirmou a petrolífera.
O presidente da Abear, Eduardo Sanovicz, explica que qualquer mudança na precificação do QAV impacta diretamente no valor pago pelos passageiros para viajar.
“O querosene não é comprado diretamente pelas pessoas, mas quem paga por esse aumento somos nós que compramos bilhete aéreo. No Brasil, o querosene corresponde, em média, a 40% do preço de uma passagem, enquanto a média mundial é de 20 a 24%”, ponderou.
Sanovicz destaca que a conjuntura do QAV é mais delicada frente a outros tipos de combustíveis. “Vivemos um problema muito sério e bastante claro: o barril de petróleo subiu 48,4% entre dezembro de 2020 e dezembro de 2021. O QAV, no ano passado, subiu 91,7%, quase o dobro do petróleo”, ressaltou.
Segundo a Abear, de 1º de janeiro a 1º de julho deste ano o QAV acumula alta de 70,6%. O cálculo da associação usa dados da estatal. De acordo com a organização, esses são valores à vista, sem considerar os tributos.
“É importante que haja uma política pública para reduzir o preço do combustível, que no Brasil chega a ser até 40% mais caro do que no exterior”, defende a associação.
Efeito sobre o preço das passagens
De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a tarifa aérea média entre janeiro e abril deste ano foi 21,52% maior do que no mesmo período de 2019, antes da pandemia, pressionada pela alta dos custos com querosene de aviação.
Segundo o órgão, a variação do preço desse combustível no primeiro quadrimestre de 2022 foi 96,7% maior do que a do mesmo período de 2019. A agência também informou que o combustível teve peso de 36% na planilha de custos das empresas aéreas nos primeiros meses do ano.
Com a tendência de alta, o preço médio da tarifa aérea doméstica nesses quatro meses foi de R$ 580,41, chegando a R$ 659,20 em abril. O painel da Anac mostra ainda que, no mesmo mês de 2021, a tarifa estava em R$ 366,41.
Para Marcus Reis, economista perito em aviação, é inevitável que as empresas repassem o aumento dos custos para os passageiros.
“Cerca de 40% do custo de uma passagem vem do combustível, então é natural que as empresas repassem o aumento do preço do querosene para os clientes. Seria complicado estimar o valor do aumento das tarifas, porque isso varia em cada estado e até entre os aeroportos. O certo é que as empresas já têm baixa margem de lucro, de 0,1% a 0,5%, então não seriam capazes de absorver essa alta sem repassar”, afirmou o economista.
De acordo com Gilberto Braga, economista do Ibmec RJ, existem outros fatores que podem gerar aumento no preço das passagens.
“Hoje, há uma procura muito grande por passagens aéreas, por demanda reprimida, pessoas visitando parentes. Só que não há um crescimento proporcional da oferta de voos, até porque várias companhias aéreas encontram dificuldades econômicas, ainda como consequência da pandemia. Algumas devolveram aeronaves, cortaram voos, e isso faz com que essa demanda por voos produza um aumento dos preços. Então não podemos dizer que o aumento do preço das passagens se dá exclusivamente pelo aumento de custos”, declarou.
Braga relata ainda que a situação se repete no cenário internacional. “Agora que estamos no verão europeu, época que mais se viaja por lá, os Estados Unidos e Europa estão com falta de pessoal, e os funcionários estão, inclusive, fazendo greves por excesso de trabalho, pedindo recontratação de colegas e aumento dos salários”.
Questionada sobre possível aumento dos preços das passagens, a Latam deixou o assunto a cargo da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear). Procuradas pela CNN, a GOL e a AZUL não deram retorno até a publicação desta reportagem.