Cruzeiro do Sul, Acre 28 de maio de 2025 19:54

Serra do Divisor é vista como monumento sagrado e misterioso por povos nativos e indígenas do Peru

Situado no coração da Floresta Amazônica, na divisa do Brasil com o Peru, a montanha solitária de 400 metros chama atenção não só por sua forma piramidal inusitada, mas também pelo mistério que a envolve. Objeto de debate entre os brasileiros que defendem a abertura de uma estrada passando ao seu redor para ligar o município acreano de Cruzeiro do Sul, no Vale do Juruá, com a cidade de Pucallpa, no Departamento de Ucayali, a montanha é reverenciada pelos nativos peruanos como “Cerro El Cono” – “Montaña Cónica”, em português.

O monte ergue-se abruptamente na região da Sierra del Divisor, na fronteira entre Peru e Brasil, e pode ser visto até mesmo dos Andes, a 400 km de distância.

A região onde fica El Cono é extremamente rica em biodiversidade, lar de espécies como a onça-pintada, o tatu-canastra e vários tipos de macacos. Em 2015, a área foi transformada no Parque Nacional Sierra del Divisor para frear ameaças como desmatamento ilegal, mineração e caça, problemas que, infelizmente, ainda persistem.

Sua origem é um enigma: alguns acreditam que pode ser um vulcão extinto, outros dizem que é uma formação rochosa incomum. Já as comunidades indígenas enxergam “El Cono” como um “Apu andino”, um espírito sagrado da montanha que protege e guia seu povo.

Há ainda uma teoria, sem evidências, de que ali estariam os restos de uma antiga pirâmide construída por civilizações desaparecidas.

Cachoeira na Serra do Divisor/Foto: Marcos Vicentti

A área que cabe ao Brasil e é conhecida como Parque Nacional da Serra do Divisor foi oficialmente criada em 16 de junho de 1989, através do Decreto nº 97.839, no governo do presidente José Sarney. Abrange uma área de aproximadamente 837.555 hectares, distribuída entre os municípios de Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Marechal Thaumaturgo, Porto Walter e Rodrigues Alves, na parte acreana e brasileira.

No Brasil, geograficamente, a região é descrita como caracterizada por um relevo montanhoso que forma um divisor natural entre as bacias hidrográficas dos rios Ucayali (Peru) e Juruá (Brasil). O parque abriga uma vasta gama de ecossistemas, incluindo florestas tropicais densas e áreas de altitude elevada, que são lar de uma biodiversidade impressionante. É considerado um dos locais de maior biodiversidade da Amazônia, com mais de 485 espécies de aves, além de mamíferos, répteis e anfíbios, onde vivem espécies ameaçadas de extinção, como o gavião-real. A flora inclui árvores como cedro e outras espécies, além de plantas medicinais utilizadas pelas comunidades locais.

O Parque Nacional da Serra do Divisor possui uma beleza singular devido a fauna e flora. Foto Victor Nogueira/Seet

A área é habitada por comunidades indígenas e ribeirinhas que possuem um vasto conhecimento sobre a fauna e flora locais. Essas comunidades desempenham um papel crucial na conservação da biodiversidade e na preservação das tradições culturais. O parque é destino popular para ecoturismo, oferecendo trilhas, cachoeiras e mirantes. O acesso ao parque é feito principalmente a partir de Mâncio Lima, onde os visitantes podem pegar barcos para explorar a região. Para visitar, é necessário entrar em contato com o ICMBio para obter autorização de acesso.

A Serra do Divisor é um verdadeiro santuário da natureza, oferecendo uma rica experiência tanto em biodiversidade quanto em cultura. É um local ideal para quem busca se conectar com a natureza e aprender sobre a importância da conservação ambiental.

Serra do Divisor é vista como monumento sagrado e misterioso por povos nativos e indígenas do Peru/Foto: Reprodução

Sagrado pelos nativos peruanos ou santuário de belezas naturais para os brasileiros, seja lá o que for, o fato é que a Serra ganha a cada dia mais visibilidade porque está no caminho dos que defendem a integração bioceânica do Atlântico com o Pacífico, através de uma estrada que começaria no Porto de Ilhéus, na Bahia, cruzaria o país através dos estados de Goiás, do Mato Grosso, Rondônia e passaria pelo Acre até Pucallpa, e de lá prosseguiria para Lima em busca do gigantesco Porto de Chancay, situado no Oceano Pacífico, a 80 quilômetros do centro da capital. O Porto de Chancay foi construído com o financiamento do capital chinês, o mesmo que financiaria a estrada cortando o Brasil e que ligaria, enfim, o Atlântico ao Pacífico a fim de aproximar cada vez mais os continentes da América Latina à Ásia.

O empecilho, além da montanha, que é vista como um símbolo sagrado para povos indígenas que habitam a região, é o movimento ambientalista internacional, com forte influência sobre o governo brasileiro, através do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, que tem como ministra a acreana Marina Silva. Na semana passada, em visita ao Acre, quando deu entrevista exclusiva sobre o assunto ao ContilNet, a ministra falou sobre a proposta de ligação passando pela Serra do Divisor.