Mohamed Bazum, um dos últimos governantes pró-Ocidente nesta região da África, foi destituído no dia 26 de julho; ele estava no poder desde 2021
Os países europeus começaram a se movimentar para retirar seus cidadãos do Níger, seis dias após o golpe de Estado que derrubou Mohamed Bazum, um dos últimos governantes pró-Ocidente nesta região da África, onde atuam vários grupos extremistas. A França começará a retirar seus cidadãos nesta terça-feira, 1, informou o ministério francês de Relações Exteriores. “Diante da deterioração da situação de segurança e aproveitando a calma relativa em Niamey, nós estamos preparando uma operação de retirada por via aérea”, afirmou a embaixada em uma mensagem aos cidadãos franceses. A França calcula que quase 600 cidadãos do país estão no Níger, número que não inclui os turistas ou os residentes franceses que estão fora do país. Esse anúncio vem um dia após as manifestações hostis diante da embaixada francesa. Na segunda-feira, 31, a junta militar acusou a França de tentar “intervir militarmente”, o que Paris nega, ao mesmo tempo que Mali e Burkina Faso, também governados por militares, alertaram que qualquer intervenção no Níger seria uma “declaração de guerra” contra estas nações.
Em resposta, o governo do presidente Emmanuel Macron advertiu veementemente que agiria “de forma imediata e decisiva” se houvesse ataques contra seus interesses. Nesta segunda-feira, o Palácio Eliseu destacou que Macron conversou diversas vezes com Bazoum e com seu antecessor, que atua como mediador, bem como com dirigentes de outros países da região, dentro de uma longa série de contatos em busca de uma solução para a crise no Níger. A França, ex-potência colonial do Níger, tem um contingente de 1.500 soldados naquele país africano para apoiar a luta contra o jihadismo e fortes interesses no setor de extração de urânio, com o qual abastece suas cruciais usinas nucleares. O ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, também anunciou um voo especial para os cidadãos que desejam sair do país.
O governo da Alemanha também aos seus cidadãos que deixem o Níger, em meio à crescente instabilidade que o país vive após o golpe militar, e recomendou que o façam através dos voos de evacuação organizados pela França. “Podemos confirmar que nossos parceiros franceses se ofereceram para, dentro de suas capacidades, evacuar cidadãos alemães a bordo de seus aviões”, informou o Ministério das Relações Exteriores alemão em comunicado. “Recomendamos a todos os cidadãos alemães em Niamey que aceitem esta oferta”, acrescentou a nota. A Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) adotou sanções no domingo contra Níger, advertiu que poderia utilizar a força no país e deu um ultimato de uma semana aos golpistas para que Bazum retorne ao poder
Na segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores da Espanha em exercício, José Manuel Albares, pediu aos espanhóis que estão no Níger que notifiquem sua presença a embaixada, e reiterou que a cooperação espanhola não voltará ao país africano enquanto o presidente deposto, Mohamed Bazoum, não for libertado. “Entre em contato imediatamente – com a embaixada espanhola no Níger – para saber se estão bem e manter contato”, disse Albares, referindo-se aos espanhóis que ainda estão lá e não informaram a embaixada. Durante um curso sobre a Presidência espanhola da União Europeia (UE) na Universidade Menéndez Pelayo, em Santander, no norte do país, Albares afirmou que o governo espanhol está acompanhando “com muita preocupação” o que se passa no Níger, um país que tem “uma história de sucesso”, embora seja “muito frágil”. Acrescentou que o Níger é um “grande parceiro” da Espanha e da UE, que “tem avançado democraticamente com um governo comprometido no desenvolvimento do seu próprio povo, o do presidente Bazoum”. Por isso, ressalto que a Espanha rejeita “categoricamente” a detenção do presidente e exige “sua libertação imediata”.
O que acontece no Níger?
O golpe de Estado, dado em 26 de julho, foi liderado por uma junta militar, autodenominada Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP), que anunciou a destituição do presidente Mohamed Bazoum, a suspensão das instituições, o fechamento das fronteiras e um toque de recolher noturno até novo aviso. Esse foi o terceiro golpe de Estado da região em três anos, após as tomadas de poder nos vizinhos Mali e Burkina Faso. Bazum chegou ao poder em 2021, depois de vencer as eleições que representaram a primeira transição pacífica de poder no país. O mandato, no entanto, já estava marcado por duas tentativas de golpe antes dos acontecimentos da semana passada, quando ele foi detido na residência oficial por membros da guarda presidencial de elite.
O Níger é um país semidesértico, um dos mais pobres e instáveis do mundo, apesar de suas grandes reservas significativas de urânio, que registrou quatro golpes de Estado desde a independência em 1960. Com a retirada de Bazum, o comandante da guarda, general Abdurahaman Tiani, se declarou o novo líder do país, apesar das críticas da CEDEAO, da União Africana, da ONU, assim como da França, Estados Unidos e União Europeia. O golpe acionou os alarmes nos países ocidentais que lutam para conter uma insurgência jihadista nesta região, que teve início no norte do Mali em 2012, avançou para o Níger e Burkina Faso três anos depois e agora ameaça as fronteiras de vários Estados frágeis no Golfo de Guiné.
A violência extremista provocou um número indeterminado de vítimas civis, soldados e policiais em toda a região. Em Burkina Faso, 2,2 milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas. A França já teve 5.400 soldados na região como parte da missão antijihadista denominada ‘Barkhane’, com o apoio de aviões de combate, helicópteros e drones. Porém, no ano passado o país teve que retirar suas tropas do Mali e de Burkina Faso e atualmente mantém 1.500 homens na região, a maioria no Níger.
Capa/Foto: AFP
*Com informações das agências internacionais