Cruzeiro do Sul, Acre 19 de maio de 2024 14:46

Ocupação da Ufac: presidente do DCE e manifestante do protesto falam sobre o movimento

O Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Acre (Ufac) foi ocupado por estudantes pertencentes a movimentos populares na última sexta-feira (02). Com opiniões massivamente contrárias nas redes sociais, os militantes alegam a legitimidade do movimento, enquanto os eleitos para comandar o diretório afirmam os possíveis prejuízos da ação.

O movimento segue a linha da greve dos professores e servidores públicos, reivindicando a abertura do Restaurante Universitário (RU) e outros serviços para os estudantes da Ufac. Contudo, os responsáveis pelo órgão alertam para os riscos envolvidos na decisão, uma vez que, segundo eles, documentos, dinheiro e materiais estavam em perigo com a ocupação.

Ambos os lados de uma discussão dentro de um movimento de greve por reajustes e uma melhoria na qualidade dos salários são explorados. O ContilNetentrevista dois articuladores de cada lado para discutir suas motivações, preocupações e reivindicações para o atual momento dentro da Universidade.

Os entrevistados são Ingrid Maia, atualmente presidente do DCE, e Kássyus Oliveira, atualmente Presidente do Centro Acadêmico de Licenciatura em História Rômulo Garcia (CALICEH).

A(s) greve(s)

“Estes últimos dias têm sido intensos. Desde que a greve dos técnicos foi deflagrada e agora com a greve dos docentes, estamos em um período de greve. Nunca é confortável, mas é importante frisar que apoiamos a greve e reconhecemos que os servidores estão há mais de sete anos sem reajuste salarial, enquanto a inflação só vem aumentando. A greve é um direito legítimo”, declara Ingrid

Reunião na sede da ADufac para deflagração da greve/Foto: Reprodução

.

Em um momento delicado dentro do campus, Maia deixa claro que o DCE está atenuando a situação para evitar o aumento do “sofrimento dos estudantes”.

“A gente tá procurando dialogar, tentar traçar as melhores estratégias”, diz a representante estudantil.

De ações, Ingrid cita a luta para a manutenção do RU aberto – Ingrid revela que será solucionado com um auxílio emergencial – além da luta para a manutenção do bônus regional de 15% para candidatos que tenham cursado todo o Ensino Médio em escolas privadas ou públicas no estado do Acre. São lutas que continuam em voga no espaço da luta estudantil.

“A greve é um direito legítimo”, declara Ingrid/Foto: Cedida

“Também oficiamos, o comando de greve, com os técnicos para que avaliassem as bolsas da Proaes [Pró-reitoria de Assistência Estudantil] como serviço essencial também [para estudantes com vulnerabilidade econômica]. É importante explicar que não está tendo novos editais, porque é preciso ter uma avaliação feita pelas assistências sociais e eles, os técnicos, estão de greve”, comenta.

Até que a ocupação aconteceu. Ingrid fala aoContilNetque no espaço havia dinheiro, referente à recarga do passe de ônibus dos estudantes, televisão, caixa de som e patrimônios da Ufac.

“Quem gerencia aquele espaço é a prefeitura do campus, e toda a responsabilidade por ele é nossa, da nossa gestão. Portanto, é claro que nos causa preocupação a possibilidade de ocorrer algo com o que está guardado lá dentro ou com as dependências”, reflete a presidente do DCE.

A ocupação

“É importante relembrar que as acusações de “invasão” e de “depredar o espaço” são nada mais, nada menos do que caluniosas. Nós nos sentimos descredibilizados pelo nosso esforço gigantesco em lutar por nossos cursos e pelas pautas que permeiam o universo acadêmico”, quem fala é Kássyus, acadêmico de história.

Ingrid fala ao ContilNet que no espaço havia dinheiro, referente à recarga do passe de ônibus dos estudantes, televisão, caixa de som e patrimônios da Ufac/Foto: Cedida

Para Oliveira, a partir do momento em que os estudantes não apoiaram a greve, a forma que encontraram para ir contra sua luta foi criando mentiras. Para ele, é triste ver que a ocupação de um espaço, que ocorreu pela simbologia de mostrar que os estudantes são os principais agentes que movem a universidade, foi reduzida a vandalismo.

“Tudo isso foram tentativas de mostrar que estamos chamando com urgência pela atenção dos órgãos superiores para que nos ouçam”, reitera.

Manifestantes ocuparam o local na noite de quinta-feira (02), como mostram imagens feitas por eles, com instrumentos musicais, conversando e ouvindo música nas salas.

“Nós vivemos a universidade. Eu lutei a vida inteira para ter a oportunidade de estudar algo que eu amo, o que significa dizer que jamais causaríamos qualquer dano a um espaço que se tornou nossa segunda casa. Aos meus ouvidos soa um absurdo ser acusado de “vandalista” por ter levantado cartazes em prol de bolsas estudantis, alimentação de qualidade”, declara o estudante.

As acusações feitas estão presentes em diversos posts nas redes sociais, especialmente nas notas de repúdio feitas pelo DCE e pelo Instagram da Ufac. Outra página de rede social que compartilhou diversos comentários atacando os ocupantes foi o Spotted Ufac, que não tem nomes claros sobre quem administra e publica suas opiniões. No entanto, é reconhecidamente uma influência forte entre os estudantes.

As notas

Kássyus, que está em seu primeiro movimento de ocupação, fala da sensação de ver, pela primeira vez, o “movimento estudantil tão forte e cheio de novas pautas que precisavam novamente serem ouvidas”:

“Tanto nos momentos em que fiz fala com os meus colegas até o momento em que tive a oportunidade de conversar diretamente com a reitoria em uma assembleia. Todos esses novos passos significam muito para nós, porque simboliza que finalmente estamos sendo ouvidos novamente”, diz.

“É importante relembrar que as acusações de “invasão” e de “depredar o espaço” são nada mais, nada menos do que caluniosas”, garante Kássyus/Foto: Cedida

Ingrid Maia deixa claro como a luta sempre foi pelo reajuste salarial de professores e técnicos, melhoria da infraestrutura e por mais investimento na educação, na pesquisa e na extensão. E declara: “o real inimigo é o governo federal, quem pode mudar essa realidade é o governo federal”.

A reitoria da universidade também divulgou uma nota de repúdio à ação:

A Gestão Superior da Universidade Federal do Acre repudia, veementemente, os lamentáveis atos de invasão ocorridos nesta tarde ao Diretório Central de Estudantes da Ufac (DCE), em total afronta aos princípios democráticos, à liberdade de expressão, às organizações e instituições legitimamente constituídas.

[…]Serão adotadas todas as medidas necessárias para impedir que maiores danos sejam causados à toda comunidade acadêmica e para que se restabeleça a segurança do DCE. Por fim, reafirmamos nosso respeito incondicional aos princípios do Estado Democrático de Direito, à construção de diálogos propositivos, ao movimento estudantil e ao direito à livre manifestação pacífica.

Kássyus fala sobre como o DCE e a reitoria alimentaram as acusações de vandalismo. Além disso, afirma que, em uma reunião, eles não se posicionaram a favor de uma retratação, considerando sua visibilidade nas redes sociais.

“Simplesmente não se importaram com o mal que nos causaram com posicionamentos sem nenhuma comprovação. Tanto que os instigo a procurarem diretamente os responsáveis por avaliarem o patrimônio da UFAC para verificar se houve depredação. Sim, eles apenas irão comprovar que não houve danos ao prédio. Ou seja, o que custa mostrar humildade e esclarecer o equívoco com as notas?”, finaliza.

Devemos pensar o fato considerando todos os estudantes”, concluiu a presidente do DCE/Foto: Cedida

Já Ingrid fala sobre o escopo mais amplo da luta e sobre como o DCE está lidando com as reivindicações feitas por estudantes e servidores:

“Nós vamos sempre nos pautar pelo diálogo, pelo respeito, até que ele seja esgotado. Até o momento, a Reitoria e a administração não fecharam a porta para nós, estamos dialogando, estamos construindo as melhores formas de passar por essa greve e tentando resolver não só os problemas daqui de Rio Branco, mas também do campus de Cruzeiro do Sul, e os demais polos. Devemos pensar o fato considerando todos os estudantes”, concluiu a presidente do DCE.

Os servidores e professores da Ufac seguem em greve, enquanto tanto DCE e movimento de ocupação lutam pelas garantias de assistência para os estudantes do campus, embora em aparentes lados opostos de uma mesma moeda.