Um dia após o presidente da França, Emmanuel Macron, quebrar o silêncio e falar sobre a impopular reforma da previdência, aprovada na última segunda-feira, 20, e apertar a fala contra os grevistas – o líder francês informou que seu país não vai tolerar nenhuma violência. Ele criticou os manifestantes, os chamou de ‘sedeciosos’ e os comparou aos que tentaram atacar as instituições nos Estados Unidos em 2021 e no Brasil em janeiro de 2023 -, mais de um milhão de pessoas foram às ruas do país no nono dia consecutivo de manifestações contra a mudança e o líder francês. Segundo o Ministério do Interior, foram contabilizados 1,089 milhão de manifestantes. Contudo, o balanço é inferior em 200 mil pessoas ao recorde de mobilização, registrado em 7 de março. Os protestos de hoje vieram acompanhados de greves, que afetaram escolas e os setores de transportes, depredação e violência. Segundo jornal francês ‘Le Monde‘, até às 18h (14h em Brasília), 26 pessoas haviam sido presas e tinha registro, sendo um policial, atingido na cabeça por um projétil. Pela manhã, um grupo bloqueou o acesso do principal aeroporto de Paris. “Não temos escolha a não ser a greve e bloquear a economia até que Macron ceda e retire o projeto”, disse Fabrice Criquet, secretário-geral do sindicato Força Operária dos Aeroportos de Paris.
A marcha em Paris bateu um recorde, com 119 mil manifestantes, segundo o Ministério, e 800 mil, segundo o sindicato CGT. O dia de paralisação e manifestações é o primeiro desde que Macron decidiu adotar por decreto sua impopular reforma previdenciária, contra a qual se opõem todos os sindicatos e dois em cada três franceses, segundo pesquisas. Esta decisão, anunciada na quinta-feira passada e confirmada na segunda com o repúdio de duas moções de censura contra o governo, gerou um recrudescimento da tensão na França. Desde então, centenas de pessoas, a maioria jovens, participam de protestos espontâneos, marcados pela queima de latas de lixo e denúncias de violência policial. A mobilização desta quinta, onde foram registrados distúrbios em Paris e outras cidades, como Rennes e Nantes, era considerada chave para saber se os sindicatos conseguirão manter os protestos com o tempo. A saga da reforma da Previdência é uma fase de desgaste, com um governo inflexível e ansioso por deixar para trás o conflito social e uma oposição – política, sindical e popular – disposta a manter a queda de braço e, inclusive, intensificá-la.