O diretor e dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, ou simplesmente Zé Celso, morreu nesta quinta-feira, 6, aos 86 anos. Ele estava internado no Hospital das Clínicas de São Paulo desde a última terça-feira, 4, quando sofreu queimaduras causadas por um incêndio que atingiu o apartamento em que morava, na região do Paraíso, zona sul de São Paulo. O artista teve o rosto, braços e pernas atingidos pelas chamas que, segundo os bombeiros, começaram em um aquecedor elétrico. No hospital, Zé Celso passou por cirurgia, foi intubado e levado para a UTI em estado grave. Os outros três moradores da casa, um deles o diretor Marcelo Drummond, marido do dramaturgo, também foram levados ao hospital e ficaram em observação por terem inalado fumaça. O cachorro do casal, Nagô, também precisou receber atendimento. ‘Tudo é tempo e contra-tempo! E o tempo é eterno. Eu sou uma forma vitoriosa do tempo’. Nossa fênix acaba de partir pra morada do sol. Amor de muito. Amor sempre”, publicou o Teatro Oficina, fundado pelo dramaturgo, em rede social. Marcelo, que celebrou o casamento de décadas com Zé Celso há exatamente um mês, ainda não se manifestou.
Uma vida dedicada ao teatro
A carreira de Zé Celso começou no fim da década de 1950, quando, ao lado de artistas que faziam parte do Centro Acadêmico 11 de Agosto, da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, fundou o Teatro Oficina, grupo que segue em atividade até hoje, sendo um dos maiores e mais longevos do segmento. Apesar de ter entrado para o curso, Zé Celso nunca exerceu a profissão. Suas primeiras peças foram “Vento Forte para Papagaio Subir” (1958) e “A Incubadeira” (1959), ambas produzidas pelo Teatro Oficina. Em 1961, o grupo inaugurou a fase profissional, com uma casa de espetáculos alugada no Centro de São Paulo. Neste momento, Zé Celso começa a consolidar sua carreira como dramaturgo. O primeiro trabalho como diretor foi em “A Vida Impressa em Dólar”, que abriu a estadia do grupo na casa. A montagem fez com que ele ganhasse o prêmio de revelação de diretor pela Associação Paulista de Críticos de Teatro. Em 1962, Celso também conquistou todos os prêmios de direção após a encenação de “Pequenos Burgueses”.
Como diretor, atuou em mais de 40 peças, incluindo apresentações fora do Brasil como “O Rei da Vela” (2006), na Alemanha, “Galileu Galilei” (1984), em Portugal, e a própria “Pequenos Burgueses” (1964), no Uruguai. Em 2008, reapresentou sua peça de estreia como ator, “Vento Forte para um Papagaio Subir”. Já em 2011, o artista fez uma participação especial na novela “Cordel Encantado”, da Globo. Ao longo de sua carreira, venceu oito vezes o Troféu APCA, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte, sendo quatro quando a premiação ainda se chamava Troféu APCT, nas categorias de Melhor Autor, Melhor Diretor Revelação e Melhor Diretor. Um desses prêmios foi por sua direção em “O Rei da Vela”, peça escrita por Oswald de Andrade em 1933, publicada em 1937 e só encenada 30 anos depois. Em 2014, foi homenageado no Prêmio Aplauso Brasil de Teatro pelo conjunto da obra.
Foto: Reprodução/Instagram/marcelodrummond