Cruzeiro do Sul, Acre 26 de novembro de 2024 09:34

Modelo de Bauru volta a patinar após sofrer acidente e amputar perna: ‘Me trouxe de volta à realidade

Uma moradora de Bauru (SP) viu a vida mudar de repente quando, em 2016, sofreu um acidente que deixou cicatrizes e perdas irreversíveis. Entre elas, a morte do noivo e a amputação da perna esquerda. Mas, diante de toda essa situação, algo permaneceu inalterado: a paixão pelos patins.

Ao g1, a patinadora, modelo e ativista pelas pessoas com deficiência física (PCDs), Alessandra Cristina Ferreira Gianinni, de 30 anos, contou que, após o acidente, vivenciou uma fase de adaptação e descobrimentos. Inclusive, a situação que passou a viver serviu como motivação para superar os desafios encontrados.

“No primeiro momento em que me vi sem a perna, foi muito difícil. Eu achei que ia ficar isolada no quarto, sem ver as pessoas. Mas, como fiquei internada por 52 dias no hospital, saí de lá com muita sede de viver, porque sou uma pessoa muito agitada. Então, não via a hora de sair de casa. Hoje, não tenho problemas em sair de prótese ou de muleta”, conta.

Foto: Alessandra Cristina Ferreira Gianinni/Arquivo pessoal

Modelo de Bauru volta a patinar após sofrer grave acidente e precisar amputar perna

Paixão de infância

A paixão pelos patins começou quando a modelo tinha apenas seis anos. Desde então, ela não se via mais sem o equipamento. Ainda no hospital, a modelo lembra que já havia dito à mãe que achava que nunca mais poderia patinar, dadas as circunstâncias. Porém, a vida novamente a surpreendeu.

Com a amputação de uma das pernas, apesar de parecer impossível à primeira vista, segundo Alessandra, os patins se encaixaram no novo modelo de vida que ela teria dali em diante e a trouxeram de volta à realidade.

“A patinação significa muito para mim. Após meu acidente, eu não tinha perspectiva de vida, não conseguia fazer planos para o futuro. É como se as coisas tivessem estagnado, porque eu tinha acabado de conseguir um emprego, estava morando em um apartamento novo com meu noivo, comecei uma faculdade para crescer na empresa. Estava tudo como no script”, conta a jovem.

Foto: Alessandra Cristina Ferreira Gianinni/Arquivo pessoal

Após o acidente, foi na patinação que Alessandra encontrou forças, quando retomou a atividade, em 2020, para superar as dificuldades. “Foi o patins que me trouxe de volta à realidade”, completa.

Foi com a ajuda de um grupo de patinação de Bauru que a modelo, apesar de ser amputada transfemoral (amputação acima do joelho), calçou um equipamento adaptado emprestado e voltou à ativa.

“O processo de voltar a patinar foi bem natural. A memória corporal que eu tinha voltou. A primeira vez que andei foi dando a mão para o meu instrutor. A segunda vez foi de muletas, mas fiquei com medo de cair. Até que um dia o instrutor não pôde ir e eu pensei em segurar uma pedrinha na mão para enganar meu cérebro como se eu estivesse com ele. Deu certo e eu patinei sozinha.”

Foto: Alessandra Cristina Ferreira Gianinni/Arquivo pessoal

Representatividade

Para 2022, a ativista quer investir ainda mais na carreira para desmistificar a ideia de que não existem modelos amputadas. O foco é incluir pessoas com deficiência nos holofotes e manter os trabalhos que já vinha realizando.

“Quero conseguir atingir o objetivo da minha campanha. Tenho uma campanha desde o ano passado, pois consegui uma parceria com uma clínica de São Paulo que se dispôs a fazer uma prótese para mim, então estou com a vaquinha para conseguir comprá-la e me desenvolver melhor na patinação”, diz.

Alessandra também diz que a data do acidente ficará marcada como o dia em que ela renasceu. Sonhos e modos de ver a vida marcam a diferença entre a Alessandra do passado e a do presente. Inclusive em relação à iniciativa de fazer fotos sendo PCD.

Foto: Alessandra Cristina Ferreira Gianinni/Arquivo pessoal

“Todos os ensaios como modelo foram feitos depois do acidente, o que abriu minha mente sobre o ‘fazer fotos’. Esse ano voltei com esse intuito de trazer o corpo de uma pessoa amputada, com deficiência, para mostrar ao mundo que não precisam ser corpos ‘perfeitos’, que eles nem sempre representam as pessoas, mas, sim, corpos reais”, comenta.