Um mês e cinco dias, após o acidente com o helicóptero que prestava serviços para a Saúde Indígena do Acre cair na mata fechada em Cruzeiro do Sul, a equipe do Juruá Notícias conversou, numa entrevista exclusiva, com um dos sobreviventes. O técnico em enfermagem João Ramos, contou detalhes do momento da queda e não tem dúvidas, para ele, o que aconteceu foi um milagre.
O técnico em enfermagem João Ramos Campos, de 49 anos de idade, mora no município de Mâncio Lima. Há 11 anos trabalha na saúde indígena e também é servidor da Secretaria de Saúde de Cruzeiro do Sul. Para ele, seria mais uma viagem de resgate de indígenas para unidades de saúde da região.
A decolagem aconteceu em local destinado a pousos e decolagens de helicópteros, na área de uma pousada, a poucos metros do Hospital do Juruá, justamente para agilizar o resgate de pacientes até o Pronto Socorro. Era um dia de tempo bom, com poucas nuvens. João embarcou para a missão com o piloto e o mecânico, uma viagem tranquila, assim como o pouso na aldeia, Terra Nova do Povo Kulina no Alto Rio Envira, em Feijó. De lá, foram resgatadas as duas crianças gêmeas de um ano e quatro meses com suspeita de pneumonia, acompanhadas dos pais.
“Já próximo ao Crôa, o piloto passou o rádio para a torre, avisando que em vinte minutos, a gente iria pousar. Com poucos segundos, o motor deu aquele estouro, um barulho estranho, uma coisa muito rápida, a gente começou a cair (…). Pedi a Deus que nos protegesse, e pedi para os tripulantes, os passageiros indígenas, ficarem na posição em que eu estava, na de impacto. A gente começou a bater nas copas das árvores e caímos”, declarou João Ramos Campos, Técnico em Enfermagem.
O sobrevivente explicou que o piloto, mesmo em queda ainda conseguiu realizar um procedimento que pode ter ajudado a salvar a vida dos ocupantes.
“Ele fez uma manobra pra gente descer de cauda, porque, segundo o piloto, no helicóptero o motor é em cima. Se cair com ele de frente, o motor achata quem está dentro, se cair na posição de pouso, acontece à mesma coisa”, pontuou o técnico.
João Ramos contou que com o impacto nas árvores e no solo, houve vazamento de combustível da aeronave, aumentando o risco de incêndio, o que poderia tornar o acidente uma tragédia.
O mecânico Jorge da Silva Figueiredo, de 63 anos, teve uma lesão na coluna, ficou com fortes dores, e precisava de socorro. João e o piloto Rodrigo Romanato decidiram ir à cidade em busca de socorro e, com a ajuda de uma bússola iniciaram um difícil deslocamento pelo meio da mata.
No mesmo dia, os bombeiros resgataram o casal de indígenas e as crianças, que não sofreram ferimentos. Diante de tudo o que aconteceu, a queda repentina do helicóptero no meio da mata fechada, combustível derramado sem fogo ou explosão e o estado em que ficaram os ocupantes, o técnico em enfermagem João Ramos crer em um milagre.
No momento em que conseguiu sinal de internet, o técnico avisou a família que estava bem, inclusive ao irmão Francisco Ramos, que tinha recebido a informação de que todos a bordo estavam mortos.
Agora, João Ramos explicou que vai aproveitar cada instante com o irmão, família e os amigos, fazendo o que mais gosta, aproveitando a oportunidade que teve de continuar a vida.
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