Cruzeiro do Sul, Acre 27 de novembro de 2024 05:37

Liderança indígena no AC pede respostas e punição sobre caso de jornalista e indigenista: ‘barbárie’

“Justiça por Dom e Bruno!”, foi assim que o líder dos Ashaninkas, Francisco Piyãko, definiu o sentimento sobre as últimas notícias relacionadas ao jornalista Dom Phillips, colaborador do jornal ‘The Guardian’, e o indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira.

Em nota, a PF negou que os corpos dos dois tenham sido encontrados. A associação indígena Univaja, que denunciou o desaparecimento dos dois, também não confirmou.

“Não confirmamos a informação de terem encontrado corpos”, disse Eliésio Marubo, assessor jurídico da Univaja.

Porém, Alessandra alega que recebeu uma ligação da PF confirmando a localização de dois corpos, mas informando que eles ainda precisavam ser periciados para que a identificação pudesse ser feita. Ainda de acordo com Alessandra, a embaixada britânica – que, segundo ela, já havia comunicado aos irmãos de Dom Phillips a localização dos corpos do jornalista e do indigenista – ratificou a informação da PF.

O jornal britânico “The Guardian”, onde Dom Phillips trabalhou, afirma que a família do jornalista foi informada da localização de dois corpos pela embaixada brasileira no Reino Unido.

‘Barbárie’

Francisco Piyãko relembrou a passagem de Dom em maio na aldeia dos ashaninkas em Marechal Thaumaturgo, no interior do estado. A associação já havia, inclusive, divulgado um vídeo em que o jornalista falava sobre a produção do seu livro e a intenção de mostrar as ameaças sofridas pelos indígenas.

“Dom aqui esteve na terra ashaninka do Rio Amônia, uma pessoa que teve a sensibilidade de procurar entender e fazer um excelente trabalho de divulgar nossas regiões, nosso trabalho, nossas lutas, isso não faz mal a ninguém. Esperamos que o estado brasileiro não permita que isso ocorra mais. Esperamos que sejam encontrados os autores e sejam punidos exemplarmente, se não vai continuar acontecendo de lideranças, em pleno século 21, serem assassinadas simplesmente por falarem da Amazônia, dos povos indígenas, povos da floresta, e dando visibilidade às ameaças que estamos vivendo neste país. Que haja uma punição exemplar para que não se repitam nunca mais situações de barbárie como essa”, disse.

Dom na aldeia

Os indígenas da aldeia no Acre estiveram com o jornalista entre os dias 4 e 10 de maio deste ano – período em que foi gravada a fala.

O jornalista começa se apresentando e falando que estava fazendo um livro sobre a Amazônia e que iria conviver com os indígenas para poder retratar suas maiores dificuldades.

“As terras indígenas são os locais mais protegidos na Amazônia, todo mundo sabe disso e eu pedi para vir para cá [Acre] para entender como vocês lidam com isso aqui, como vocês se organizam, como é todo esse processo. Eu vim para acompanhar um pouco isso, aprender um pouco com vocês, como é essa cultura, como vocês veem a floresta; como vocês vivem por dentro, como vocês lidam com essas ameaças que vêm de invasores, garimpeiros e tudo mais. Agora estou fazendo um livro para uma editora inglesa, sobre essa questão da conservação na Amazônia, e andando muito na Amazônia, andando com pessoas e uma parte muito importante deste livro é a proteção dos povos indígenas, o protagonismo”, diz o jornalista no vídeo que dura um minuto.

Em nota, divulgada nas redes sociais, a Apiwtxa relembrou a visita do jornalista na região e lamentou o ocorrido. “Externamos aqui nossa profunda preocupação com o seu desaparecimento, junto com o indigenista Bruno Araújo. Pedimos total celeridade nas buscas.”

Foto: Reprodução

Quem é Dom Phillips?

O jornalista britânico é um veterano na cobertura internacional. Ele já foi colaborador dos jornais “Washington Post”, “The New York Times” e “Financial Times”, e está no Brasil há aproximadamente 15 anos.

Segundo o jornal do qual era colaborador, ele é conhecido por seu amor pela região amazônica e viajou muito pela região a fim de relatar a crise ambiental brasileira e os problemas de suas comunidades indígenas.

Ele é natural do condado de Merseyside, região onde fica a cidade de Liverpool, no noroeste inglês. Mudou-se para o Brasil em 2007.

De acordo com amigos, Phillips se aventurou no mundo da música antes de se tornar jornalista.

Além de seu trabalho como jornalista, o inglês está escrevendo um livro sobre a floresta amazônica e sua autossustentabilidade quanto às chuvas.

Segundo um colega de trabalho, este projeto é apoiado pela Fundação Alicia Patterson, sediada na Bahia, onde Dom mora atualmente.

“Amazônia sua linda”, escreveu o jornalista na semana passada no Instagram ao lado de um vídeo onde estava em um barco na região.

Foto: TV Globo/Reprodução

Quem são Bruno Pereira e Dom Phillips

Além de indigenista, pessoa que reconhecidamente apoia a causa indígena, Bruno Pereira é servidor federal licenciado da Funai. Ele também dava suporte a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari,(Univaja) em projetos e ações pontuais.

Segundo a nota da Univaja, Bruno era “experiente e profundo conhecedor da região, pois foi Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por anos”.

Dom morava em Salvador e fazia reportagens sobre o Brasil há mais de 15 anos para veículos como “Washington Post”, “New York Times” e “Financial Times”, além do “The Guardian”. Ele também estava trabalhando em um livro sobre meio ambiente com apoio da Fundação Alicia Patterson.

Dom e Bruno faziam expedições juntos na região desde 2018, de acordo com o “The Guardian”.