Cruzeiro do Sul, Acre 28 de novembro de 2024 23:48

‘Já sabia que tinha algo errado’, diz jovem envenenado por madrasta

Cíntia, Adeilson e os filhos que eles tiveram em outros casamentos formavam uma família que parecia amorosa, mas hoje é assim que ele se refere à ex-companheira: “Monstro”.

Há dois meses, ele perdeu a filha, Fernanda Dias Cabral, de 22 anos, de outro casamento. A jovem morreu após passar mal depois de jantar e ser levada em estado muito grave para o hospital, onde morreu 12 dias depois. No atestado de óbito, a causa foi infecção generalizada. O corpo não foi levado para o Instituto Médico Legal e o assunto parecia encerrado.

No entanto, dois meses depois, o desespero voltou à família. No dia 15 de maio, Bruno, o segundo filho de Jane e Adeilson, almoçou na casa do pai e de Cíntia. Poucas horas depois, começou a ter os mesmos sintomas que Fernanda tinha sentido. Ele mora com a mãe, e disse à ela que desconfiou do feijão oferecido no almoço. Contou que Adeilson e os filhos biológicos de Cíntia também estavam na mesa, mas que só ele foi servido pela madrasta e que havia pequenas pedrinhas azuladas na comida.

“Quando ela ficou toda nervosa, desesperada, pegando meu prato, eu já sabia que tinha algo errado. Ela pegou meu prato, retirou as bolinhas que eu cheguei a separar e botou mais feijão”, conta.

Bruno comeu pouco, foi embora e, já em casa, começou a passar mal. Ao perceber os mesmos sintomas que a filha teve antes de morrer, Jane se desesperou:

“Os sintomas eram iguais: a tonteira, ele molhado de suor e, logo depois, já não conseguia mais falar. Pediu água com a língua enrolando e dali foi que eu me alertei. Já estava entendendo o que tinha acontecido com a Fernanda”, relembra.

No exame de corpo de delito de Bruno, a suspeita é de envenenamento e tentativa de homicídio. Alertada pelo hospital, a polícia começava a investigação e as buscas na casa de Cíntia. Ali, foi apreendida uma pequena quantidade de veneno contra ratos.

Bruno teve alta no dia 19 de maio e o caso dele chamou atenção para o da Fernanda. O corpo dela foi exumado na última quinta-feira (26) em busca de sinais de envenenamento. O resultado sai em 20 dias.

Filho diz que mãe admitiu ter usado chumbinho

Entre os depoimentos colhidos pela polícia, um se destaca. O próprio filho de Cíntia afirmou que ela disse para ele que colocou o prato de comida de Bruno e, em seguida, colocou chumbinho no feijão do prato dele, e que ela afirmou que fez a mesma coisa com Fernanda.

O filho contou ainda que há 20 anos Cíntia tentou matar outro enteado, de um relacionamento anterior, dando querosene ao menino que tinha 6 anos. A lista de mortes suspeitas atribuídas a ela inclui também a de um ex-namorado e a de um ex-vizinho. Cíntia teria tentado inverter a situação.

“Informalmente, para a nossa equipe, ela quis atribuir o fato ao próprio filho. Dizendo que foi o próprio filho que teria envenenado os enteados”, revela o delegado, que também falou sobre as outras suspeitas: “São mortes suspeitas, mas as investigações estão em estágio inicial. O que pode se dizer agora é que morreram de maneira muito semelhante à maneira que Fernanda morreu”.

Cíntia Mariano está presa no Complexo de Bangu, no Rio de Janeiro. Adeilson, que morava e trabalhava com a filha em feiras de livros pelo estado, se emocionou ao falar com o Fantástico.

“Quero que ela pague, porque ela tirou dois sonhos. De um pai e de uma filha… Tinha o sonho de uma filha viver com o pai trabalhando, isso não tem preço. A minha vida daqui para frente é o meu trabalho com os livros. Em cada feira que eu for fazer, pelo menos ela vai estar do meu lado; assistindo. Ela me chamava de Homem de Ferro, porque eu sempre carreguei muito peso. Livro é pesado. Ela me chamava de Homem de Ferro no trabalho, e eu vou ser. É a única coisa que eu posso fazer”, lamenta.

Em nota, a defesa de Cíntia disse que a prisão temporária é precipitada e desnecessária. Os advogados negaram que ela tenha confessado ao filho ser a autora do envenenamento dos enteados.

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