Duas pessoas morreram na China infectadas por um fungo que até então não era conhecido por parasitar humanos. O Rhodosporidiobolus fluvialis se mostrou resistente aos medicamentos que foram aplicados, e os dois pacientes não resistiram.
Os casos foram publicados na revista Nature Microbiology em junho. O estudo tentou identificar todos os tipos de fungos que foram observados em pacientes hospitalizados em 96 hospitais chineses ao longo de 10 anos. Apenas o R. fluvialis nunca havia sido visto em humanos antes.
Os agentes infecciosos foram encontrados no corpo de dois pacientes hospitalizados em instituições diferentes. Um dos pacientes contaminados era um homem de 61 anos que morreu em um hospital em Nanquim, em 2013. O outro era um homem de 85 anos que morreu em 2016 em Tianjin.
O primeiro homem chegou ao hospital com pancreatite aguda e dor nos rins. O segundo sofreu intensas dores nos rins associadas à uma pneumonia. Os testes não foram capazes de identificar se o fungo foi o principal causador da morte dos pacientes.
Para avaliar seus impactos na saúde pública, os médicos responsáveis pela pesquisa testaram o fungo em laboratório. Ao ser exposto à temperatura do corpo humano, ele se multiplicou 21 vezes mais rápido do que em temperatura ambiente.
O estudo descobriu que o micróbio vive em cursos d’água e pode ter se adaptado a ter mais êxito evolutivo em locais em que em que a temperatura é mais quente, próxima dos 37 °C do corpo humano. Ao se reproduzir mais no calor, ele se tornou resistente aos medicamentos antifúngicos.
Relação do fungo com a temperatura
Os médicos responsáveis pelos relatos de caso acreditam que a espécie pode ter evoluído na natureza para se adaptar a temperaturas mais altas, fruto das mudanças climáticas.
“A descoberta é mais uma evidência de que o aquecimento global pode promover a evolução de novos patógenos fúngicos”, escreveram os pesquisadores.
Em um artigo publicado na revista Science comentando a descoberta, o infectologista David Denning, da Universidade de Manchester, no Reino Unido, que não participou da pesquisa, descreveu a investigação como um “mau presságio para o futuro”.
“Um novo fungo patógeno que é resistente a antifúngicos e é capaz de se tornar cada vez mais resistente com temperaturas mais altas é um perigo notável”, afirmou Denning.
O médico faz a ressalva de que pelos dados coletados até agora, não há evidências de que o R. fluvialis esteja se espalhando amplamente pela população, apesar de suas características preocupantes.
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