Intensas greves e manifestações tomaram conta da França nesta quinta-feira, 19. Centenas de milhares de manifestantes foram às ruas para protestar contra o impopular adiamento da idade de aposentadoria para os 64 anos, que põem à prova a credibilidade política do presidente Emmanuel Macron. “Hoje será um grande dia de manifestação. Quando todos os sindicatos estão de acordo, algo pouco comum, é porque o problema é muito grave”, disse à rede Pública Sénat o secretário-geral do sindicato CGT, Philippe Martinez. A reforma da previdência é uma das principais medidas que o presidente francês, de 45 anos, prometeu durante a campanha que levou à sua reeleição em abril do ano passado, após um primeiro projeto em 2020 que precisou abandonar devido à chegada da pandemia. O jornal francês “Le Parisien” aponta que o projeto de reforma que Macron tenta impor representa um “teste decisivo” para Macron sobre seu mandato e sobre “a marca que deixará na história”.
Inicialmente, a ideia do presidente era adiar a aposentadoria de 62 para 65 anos, contudo, sua primeira-ministra, Élisabeth Borne, acabou estabelecendo a idade em 64 anos, mas antecipou para 2027 a exigência de contribuir 43 anos para receber a aposentadoria completa. Esses dois pontos provocaram a rejeição social e sindical. De acordo com uma pesquisa da Ipsos publicada na quarta-feira, embora 81% dos franceses considerem uma reforma necessária, 61% a rejeitam e 58% apoiam o movimento grevista. A primeira frente sindical unitária desde 2010, quando tentou em vão impedir o aumento da idade de aposentadoria de 60 para 62 anos pelo governo do presidente conservador Nicolas Sarkozy, espera levar um milhão de manifestantes às ruas.
Mais de 200 protestos estão planejados na França para essa quinta. Os primeiros já começaram, como em Toulouse e Marselha, e em Paris pela manhã. As autoridades esperam entre 550 mil e 750 mil manifestantes e entre 50 mil e 80 mil na capital. A população tenta obter o mesmo sucesso de 1995, quando um intenso protesto durante o inverno, que deixou metrôs e trens parados nas plataformas por mais de três semanas, foi o último a paralisar uma reforma da previdência. O ministro Clément Beaune já avisou que hoje seria um dia “infernal” nos transportes e pediu aos cidadãos que trabalhem de casa, onde muitos terão também que cuidar dos filhos, já que 70% dos professores também entraram em greve, segundo os sindicatos.