Que a tradicional farinha de Cruzeiro do Sul é considerada a melhor do Brasil, disso não se tem dúvidas. O seu sabor e cheiro inconfundíveis e a sua crocrância, fazem a diferença para quem já provou.
Mas, para se chegar à um padrão de excelência, muito trabalho é necessário nesse processo, desde a colheita de macaxeira na roça, até o momento em que é torrada.
Por isso, visando reduzir tempo de produção da farinha, maior quantidade de sacas e um melhor preço de mercado, agregando à permissões sanitárias, é que a Secretaria de Indústria e Comércio do estado do Acre, em parceria com o Sebrae, Sepa, Embrapa, Emater, Cooperfarinha (Cooperativa de produtores de farinha) e a Central das Cooperativas do Juruá, criaram condições para um projeto piloto na comunidade Pentecostes em Mâncio Lima, através da implantação de 5 agroindústrias de casas de farinha com forno automatizado, lavador, descascador, sevador, prensa, peneira, entre outros materiais necessários para a farinhada.
No começo houve resistência de agricultores, que depois viram as vantagens do serviço automatizado.
Para o representante da Emater, Murilo Matos, foi muito difícil quebrar esse paradigma dos produtores acreditarem na automatização das casas de farinha. “Eles pensavam que ia acabar com a qualidade da farinha de Cruzeiro do Sul. Sendo que com a automatização, a farinha melhorou mais ainda. Foram quatro anos pedindo e orientando aos produtores”, explicou.
O agricultor José Járissom garante que hoje produz mais com menos tempo e ainda mantém a qualidade do produto. “Antes, para 10 sacas de farinha, tínhamos que começar 2h da madrugada e terminávamos de 15 à 16 da tarde com cinco pessoas. Hoje, começamos 5h da manhã e vamos até 12:30h com duas pessoas.
Somente nos municípios de Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, R Alves e Marechal Thaumaturgo existem em média 500 produtores de farinha cadastrados na Central das Cooperativas do Juruá, ultrapassando 300 toneladas do produto por ano.
Maria José Maciel (conhecida por Veia) e Sebastião Nascimento são lideranças de produtores de farinha no Juruá. Eles destacam o apoio da secretaria de Indústria do Acre e parceiros no processo. Ela diz que o que mudou em termos de estruturas foi tirar o trabalho escravo do produtor rural. “Bom seria se cada um em sua comunidade tivesse uma casa de farinha com uma estrutura dessas. Pois não precisamos mais levarmos de madrugada. Estamos conseguindo produzir mais em menos tempo”, disse.
De acordo com Sebastião, uma saca era vendida em média por R$ 130,00 e agora conseguem vender de R$ 170,00, uma melhora significativa social e econômica aos produtores.
A casa de farinha de Maria José, hoje é a única que atende aos critérios de especificação técnica de produção automatizada de farinha com a insigne da Indicação Geográfica da Farinha de Cruzeiro do Sul.
Essa IG é uma proteção jurídica que inclui a área geográfica do Juruá, ou seja, os municípios de Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves, Mâncio Lima, Porto Walter e Marechal Thaumaturgo. A Central das Cooperativas do Juruá é a responsável junto ao Conselho Gestor de acompanhar o atendimento dos critérios de especiação técnica para manutenção da qualidade da farinha que irá ser produzida e comercializada.
Para os agricultores, significa o reconhecimento do seu produto no mercado; para a região, sinaliza a chance de desenvolvimento; para o consumidor é a garantia de contar com um produto de excelência, genuíno da agricultura familiar e com procedência reconhecida, como ressalta o consultor do Sebrae Francisco Elias.
“Existe um conselho regulador que garante a utilização das normas de especificação técnica para verificar como é que funcionam as unidades de fabricação e critérios avaliados para que essa farinha seja caracterizada como Identificação Geográfica (IG)”, explicou.
O secretário de Indústria do Acre, Assur Barbary, destaca que a criação de Agro- Indústria para o beneficiamento de farinha é uma ação concreta do governo e parceiros na geração de emprego e renda.
“Estamos tendo a satisfação e felicidade de está entregando uma ação concreta da geração de emprego na Indústria e no Campo, em especial, aqui no Juruá. Essa oportunidade que está sendo concebida neste momento, ela vai alavancar muitos negócios com esses produtos aqui na região. O que nos resta agora é replicar esse modelo para demais produtores, para que todos assimilem. Não é um trabalho fácil, muitas coisas devem ser feitas ainda, mas, tenho certeza que com os primeiros resultados de negócios dessas 5 casas de farinha, todos os outros empreendedores desse seguimento vão correr atrás e vão adota-los”, pontuou.