O segundo dia de audiência de instrução que julga o empresário Tarcísio Araújo, denunciado por feminicídio no caso da morte da cantora Nayara Vilela, acontece nesta sexta-feira (9), no Fórum Criminal de Rio Branco.
A primeira testemunha do dia foi a empresária Silvia Montenegro, colega de Tarcísio há pelo menos 20 anos e organizadora do casamento dos dois.
O juiz Alesson Braz, que conduz a audiência, começou o interrogatório e questionou como Silvia conheceu o casal. A testemunha disse que não presenciou brigas entre eles.
“Conheço o Tarcísio há 20 anos, desde que comecei a trabalhar com eventos. Faz três anos que vi Nayara pela primeira vez, no aniversário de 15 anos da minha filha, em maio, no primeiro evento em que Tarcísio trabalhou no meu espaço. Ele a apresentou como namorada, Nayara”, disse.
“Nunca vi briga naquele primeiro momento. Ele tinha o maior carinho por ela, pediu almoço para ela na festa, estavam juntos. Eu nunca vi nenhuma discussão entre os dois. A gente se reencontrou depois, em um evento. Eles já tinham projeto de casar e ela lembrou de fazer o orçamento comigo para o casamento no meu espaço”, continuou.
Silvia disse que Tarcísio tinha muito zelo pelo trabalho de Nayara e que a artista passou por uma grande transformação.
“Ele tinha o maior zelo em relação a montar o som para ela. Ela era uma menina simples, com uma roupa simples. No decorrer dos meses, vi uma transformação gigantesca. Ela se transformou num fenômeno. Era talentosa, com o auxílio de Tarcísio. Ele a colocou nos melhores eventos de Rio Branco. A carreira decolou. Foi uma transformação rápida. Quando vieram fazer a festa do casamento, ela já estava com procedimento no rosto, cabelo mais longo”, pontuou.
Audiência chega ao segundo dia/Foto: ContilNet
Montenegro deu detalhes de como foi o dia do casamento.
“Eu não puxo nem para um lado nem para o outro, mesmo conhecendo o Tarcísio há muitos anos. Ele fez coisas nesse evento que nunca vimos ele fazer. Ela foi fazer fotos do casamento em São Paulo. Nunca vi Tarcísio dançar na vinda como fez no casamento. Foi um casamento lindo. Tudo que ela queria, ele nunca disse não. Não tenho como falar que ele não atendeu às necessidades dela. No meu serviço, foi conforme ela quis. Todo mundo estava feliz […]. O casamento foi lindo, perfeito, emocionante, até as 5h da manhã, sem contratempo. O vestido dela foi desenhado por um estilista do Rio de Janeiro”, salientou.
O juiz perguntou a Silvia se ela teve algum contato com a mãe da noiva. A empresária disse que apenas durante os ensaios do casamento e no velório da artista:
“Eu não conversei com ela. O que posso dizer é que, no geral, estava todo mundo feliz”.
Silvia conta que, ao saber da tragédia, foi até a residência do casal e narrou as cenas que presenciou no velório de Nayara:
“Eu nunca esperei uma coisa dessas [a morte]. Fui à casa deles logo que soube da notícia. Chegando lá, só tinha uma viatura da PM, e Tarcísio estava sentado numa cadeira. Fiquei do outro lado da rua. Não falei com ele. No dia do velório, fui lá, abracei-o. Não vi atrito. A única coisa que ouvi foi a mãe dela questionando por que ela [Nayara] tinha feito aquilo. Eu vi o filho dela o tempo todo abraçado com Tarcísio no velório”.
A testemunha disse que Nayara chegou a desistir do casamento dias antes da cerimônia.
“Nayara me ligou faltando 20 dias para o casamento. A ligação estava ruim. Ela estava chorando e disse que não ia mais casar com Tarcísio, pedindo para devolver o dinheiro dele, com o evento 100% pago. Ela disse que não ia mais casar com Tarcísio porque não aguentava mais aquela situação. Eu disse para ela se acalmar. Ela falou dos filhos dele. Eu disse que aquilo era infantilidade. Liguei para Tarcísio. Ele me ligou e disse que era por conta dos filhos dele, que ela não queria que ele falasse com os filhos, que desse assistência. Ele disse que aquilo era besteira dela e para eu esperar ela se acalmar, porque ela era nervosa, aperreada. Foi a única coisa que ele disse”, comentou.
“Passou. Dois dias depois, como eu já tinha encomendado as coisas, teria que cancelar com as pessoas se não fosse ter casamento. Depois de uns dias, eles vieram aqui, tudo bem. Demos continuidade ao casamento, normal”, acrescentou.
Ao ser questionada pela defesa de Tarcísio sobre o comportamento do empresário com as mulheres, Silvia disse que nunca presenciou nenhum ato de violência:
“Nunca vi. Pelo contrário, sempre o vi tratando com muito respeito”.
A defesa entrou em cena e perguntou o que Silvia sabia sobre a vida dos dois e o local onde ela morava. Silvia respondeu:
“Tarcísio não queria comprar aquela casa, ele queria uma mais simples perto do horto. Ela queria porque queria. O que sei é que ele se endividou por conta disso, é o que fiquei sabendo”.
A audiência aconteceu de forma virtual, mas foi transmitida para a imprensa no Fórum Criminal.
