“Na pior das hipóteses, foi um ato intimidador”, disse o primeiro-ministro australiano
A Austrália está exigindo que a China investigue o suposto uso de um laser para “iluminar” um jato australiano nas águas da costa norte do país em um incidente que ameaça piorar as relações entre os dois países.
O primeiro-ministro Scott Morrison disse nesta segunda-feira (21) que pediu ao governo chinês que explicasse o ato “perigoso” e “imprudente” supostamente realizado por um navio de guerra da Marinha do Exército de Libertação Popular na semana passada.
“Foi perigoso, não profissional e imprudente para uma Marinha profissional, e queremos algumas respostas sobre por que fizeram isso”, disse Morrison. “Na pior das hipóteses, foi intimidador”.
“São eles que precisam explicar, não apenas para a Austrália, mas para todos os países da nossa região”, acrescentou. “Pode ocorrer com qualquer outra pessoa que esteja simplesmente fazendo a vigilância de sua própria Zona Econômica Exclusiva”.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, disse a repórteres que o navio estava cumprindo a lei internacional.
“Depois de verificar com as autoridades chinesas, as informações divulgadas pelo lado australiano não eram verdadeiras. A navegação normal do navio chinês em alto mar está em conformidade com as leis e práticas internacionais relevantes e é completamente legítima e legal”, disse Wang.
“Pedimos ao lado australiano que respeite os direitos legítimos dos navios chineses de acordo com a lei internacional e pare de espalhar maliciosamente informações falsas sobre a China”.
Anteriormente, o jornal estatal Global Times acusou a Austrália de tentar prejudicar a reputação de Pequim no Pacífico Sul. “Os militares australianos conscientemente promoveram isso com o objetivo de jogar lama na China”, disse o artigo, citando um analista anônimo.
O jornal acusou o governo australiano de tentar desviar a atenção dos esforços de ajuda dos militares chineses no Pacífico Sul, citando a recente entrega de suprimentos a Tonga e o envio de itens médicos para as Ilhas Salomão.
Ato defensivo ou movimento provocativo?
O incidente em questão teria ocorrido na semana passada, quando um avião australiano P-8A, uma aeronave de reconhecimento e guerra, sobrevoava o mar de Arafura, o corpo de água entre o norte da Austrália e a ilha de Nova Guiné.
A Força de Defesa Australiana disse em um comunicado no último sábado (19) que o navio da Marinha do Exército de Libertação Popular usou um laser para “iluminar” o avião australiano.
A China não negou explicitamente a ação, mas disse que seria normal que um navio de guerra usasse um telêmetro a laser se uma aeronave chegasse perto de uma embarcação.
“A Austrália não disse ao público o quão perto sua aeronave voou perto dos navios chineses, então as pessoas não poderiam dizer se os navios chineses foram forçados a tomar contramedidas defensivas”, disse Song Zhongping, especialista militar chinês.
No passado, pilotos alvos de ataques a laser relataram flashes desorientadores, dor, espasmos, manchas na visão e até cegueira temporária.
“Durante as fases críticas do voo, quando o piloto não tem tempo suficiente para se recuperar, as consequências da exposição ao laser podem ser trágicas”, de acordo com um documento da Administração Federal de Aviação dos EUA.
Peter Layton, ex-oficial da Força Aérea Australiana e analista do Griffith Asia Institute, descartou a possibilidade de o incidente ter sido inadvertido.
“A Marinha chinesa é altamente disciplinada, com vários oficiais políticos do Partido Comunista a bordo para aconselhar o capitão e garantir que ele aja de acordo com a orientação do Partido. Isso significa que não é um acidente, mas é um ato proposital, autorizado pelos níveis mais altos”, disse Layton.
O navio que supostamente apontou o laser para o jato australiano era um dos dois navios de guerra que navegavam para o leste pelo Mar de Arafura, disseram os militares australianos.
O incidente não é o primeiro relato de embarcações chinesas apontando lasers para aeronaves australianas. Em maio de 2019, pilotos australianos disseram que foram alvos várias vezes de lasers comerciais durante missões no Mar da China Meridional.
E em um relatório em junho de 2018, oficiais militares dos EUA disseram à CNN que houve pelo menos 20 incidentes suspeitos de laser chinês no leste do Pacífico de setembro de 2017 a junho de 2018.
As tensões militares entre a China e a Austrália aumentaram em novembro, quando Canberra disse que estava entrando em um pacto com os Estados Unidos e o Reino Unido para adquirir submarinos movidos a energia nuclear.
No dia em que o acordo foi anunciado, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijan, disse que a Austrália deveria “considerar seriamente se deve ver a China como um parceiro ou uma ameaça”.