Com mais de 5 mil focos de queimadas no ano, as multas por crimes ambientais já ultrapassaram a marca de R$ 15 milhões no Acre, entre 1º de janeiro e a primeira quinzena de setembro, segundo o Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac).
Ainda conforme o órgão, responsável pela fiscalização de infrações contra o meio ambiente, a maior parte das autuações foi emitida por conta de queimadas e desmatamento ilegal. No mesmo período, entre janeiro e setembro, 2 mil hectares de terra foram embargados por conta de desmatamento e queimadas.
A secretária estadual de Meio Ambiente, Julie Messias, destacou que o combate aos crimes ambientais ocorre por meio da integração de diversos órgãos ambientais e forças de segurança.
“Essa abordagem conjunta tem sido essencial para combater de maneira mais eficaz as atividades ilegais, como queimadas e desmatamento. Neste momento, estamos focados em minimizar os impactos negativos desse cenário extremo que estamos vivenciando”, disse a secretária.
Além do trabalho em campo, o combate também inclui o monitoramento por meio do Centro Integrado de Geoprocessamento e Monitoramento Ambiental (Cigma).
Governo conta com ações integradas para combater as queimadas e desmatamento ilegal no Acre — Foto: Pedro Devani/Secom
No final de agosto, o governo lançou a Operação Sine Ignis (Sem Fogo), com ações coordenadas pela Casa Civil, Defesa Civil e pela Secretaria do Meio Ambiente. Além da Casa Civil, a Defesa Civil e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), as ações são desenvolvidas também pelo Instituto do Meio Ambiente do Acre (Imac), o Grupo Especial de Fronteira (Gefron), o Cento Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA).
Além do combate ao fogo e das autuações dos responsáveis por meio de órgãos estaduais, o Acre também conta com o uso da Força Nacional nas ações de combate aos incêndios florestais em Feijó, cidade do Acre com mais focos.
As equipes da Força Nacional ficarão nas localidades por 90 dias e irão atuar em conjunto com as polícias Civil e Federal na investigação e combate das causas de surgimento de incêndios por ação humana.
Ao g1, a Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Acre (Sejusp) informou que a equipe enviada ao Acre conta com dez operadores da Força Nacional especializados em combate de incêndios florestais. A atuação dos profissionais começa a partir desta quinta (19).
Queimadas na primeira quinzena de setembro
Em meio a incêndios de grandes proporções no interior e na capital do Acre, a primeira quinzena de setembro teve 2.336 focos registrados pelo monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O número supera o mesmo período no ano passado em 59%, quando os satélites do Inpe captaram 1.466 focos.
Neste recorte em 2024, o município com o maior número de queimadas foi Feijó, com 630 focos, que equivale a 27% dos registros. Logo depois está Tarauacá, com 415 (17,8%), e Cruzeiro do Sul, com 241 (10%). A capital Rio Branco ficou na sexta posição, com 122 focos, segundo o monitoramento.
Feijó, no interior do Acre, foi o município que mais queimou — Foto: Paulo Roberto Lima/Secom
As cidades que menos queimaram foram Capixaba, com 4 focos (0,2%), Plácido de Castro, com 7 focos (0,3%) e Epitaciolândia, com 8 focos (0,3%).
O total acumulado em 2024 também se aproxima do registrado nos 12 meses de 2023. Este ano, de 1º de janeiro até 15 de setembro, foram 5.073 focos detectados pelo Inpe, o que equivale a 77% do acumulado em todo o ano passado, que fechou em 6.562 focos. Considerando os demais dias do mês atual, o total de queimadas já subiu para 5.425 no ano, o que corresponde a 82% de todo o ano passado.
Maior desmatamento em Feijó
Feijó foi o município que mais desmatou na Amazônia em julho, diz Imazon — Foto: Arquivo/Khelven Castro/SOS Amazônia
O município de Feijó, distante 362 km da capital Rio Branco, foi o município que mais desmatou na Amazônia no mês de julho, de acordo com Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). O levantamento mostrou que a cidade teve 47 km² de área desmatada, o equivalente a 6.619 campos de futebol.
A cidade ficou à frente de Portel, no Pará, com 31 km², e Apuí, no Amazonas, e Tarauacá, também no interior do Acre, ambas com 24 km².
No mês de junho, não houve municípios acreanos entre os 10 que mais desmataram. Entre aquele mês e julho, o estado subiu de 22 km² de desmatamento para 142 km², o que representa um aumento de 343%.
Em junho, a derrubada de florestas no Acre representou 8% do total da Amazônia Legal, enquanto em julho o montante subiu para 22%.
Ainda segundo o Imazon, os estados do Acre, Amazonas e Pará concentraram 77% das derrubadas. Os três estados somados derrubaram 495 km² de floresta no mês de julho.
“Além disso, oito dos dez municípios que mais derrubaram a vegetação amazônica fazem parte desses estados, quatro estão localizados no Amazonas, dois no Pará e dois no Acre”, destacou o Imazon.
Desmatamento no Acre cresceu cerca de 343% entre junho e julho, conforme levantamento do Imazon — Foto: Reprodução
Apesar dos índices preocupantes, o recorte entre agosto de 2023 a julho de 2024, registrou 3.490 km² de florestas derrubadas, o que equivale a uma diminuição de 46% em comparação ao mesmo período entre 2022 e 2023.
‘Esse é o menor território detectado pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon desde o calendário de 2017. Apesar disso, essa perda equivale a quase mil campos de futebol por dia de vegetação nativa”, avaliou o instituto.
Unidades de conservação
Queimada na Resex Chico Mendes em 2022 — Foto: Arquivo/SOS Amazônia
O território acreano também foi destaque negativo em relação ao desmatamento em áreas de conservação naquele mês. A Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes teve 7 km² de desmatamento, maior volume entre as unidades em território amazônico.
Outras cinco unidades de conservação do Acre estão entre as 10 que mais desmataram em julho, segundo o Imazon.
De acordo com Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon, apesar do aumento dos números em julho, as unidades de conservação, terras indígenas e territórios quilombolas funcionam como barreiras contra a destruição florestal, por isso, a atividade é sempre menor dentro dessas regiões, se comparada com o restante do território.
“Os órgãos responsáveis devem viabilizar o processo de destinação de terras públicas para a criação de novas áreas protegidas, além de acelerar a titulação de territórios quilombolas e a homologação de terras indígenas. Assim, será possível promover uma maior defesa da floresta por meio da lei, combater a grilagem de terras e melhorar a segurança dos povos e comunidades locais”, ressaltou.