Moradora de Belo Horizonte (MG) e vinda de origem humilde, a estudante mineira Sofia Santos de Oliveira foi aprovada em três faculdades no exterior com bolsa integral: Harvard, Yale e Stanford, todas nos Estados Unidos. A jovem, de 18 anos, tem um interesse pela educação que vem de suas próprias vivências com experiências educacionais transformadoras.
Sofia não faz parte do grupo de alunos que foram treinados, desde cedo, em colégios bilíngues para ingressar nas universidades mais concorridas e renomadas do mundo. Na verdade, ela aprendeu inglês por conta própria, porque seus pais não podiam pagar por um curso. Mesmo assim, a estudante conta que já desejava estudar fora do país quando criança. “Desde o ensino fundamental, eu já cogitava a ideia de ir estudar no exterior, mas era quase uma utopia. Eu não sabia exatamente como iria conseguir chegar lá.
Trajetória
Seu histórico escolar não é linear. Ela passou por dificuldades, principalmente na infância, quando seu pai foi demitido da indústria siderúrgica em que trabalhava e ela perdeu sua bolsa de estudos do Sesi, no 5º ano do ensino fundamental. Teve que retornar à escola pública municipal e continuou a realizar atividades extracurriculares para manter-se engajada academicamente.
“Como sempre gostei de estudar, não quis me conformar com a situação e continuei buscando por oportunidades de ir para uma escola melhor. Durante esses anos, participei de olimpíadas de matemática e me engajei em assembleias escolares”, diz Sofia.
A reviravolta ocorreu no 9º ano, quando conseguiu uma bolsa integral em um curso preparatório para vestibulares e, durante sua organização para a seleção de escolas federais, conheceu o Ismart (Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos). Esse instituto foi essencial para que ela decidisse focar nas universidades do exterior. “Depois de entrar no Ismart, conheci histórias de outros jovens de origens humildes como a minha e que tinham conseguido a sonhada aprovação em universidades americanas com bolsa, e percebi que aquele sonho poderia, sim, se tornar realidade.”
Segundo Sofia, o diferencial dessas faculdades internacionais está no fato de que são dotadas de maior flexibilidade acadêmica, valorizam mais a pesquisa, geram oportunidades internacionais de estudo e têm um corpo de estudantes diverso culturalmente.
O Ismart reconhece jovens talentos de baixa renda e lhes concede bolsas de estudos em escolas particulares de excelência, cobrindo os custos com mensalidade, alimentação e transporte. Foi assim que Sofia ganhou uma bolsa para estudar no Colégio Santo Antônio no ensino médio, em 2019. Lá, sua rotina consistia em acordar às 5h e pegar dois ônibus para chegar até o colégio, voltando para casa às 20h.
Nesse meio tempo, ela ainda criou um projeto social para apoiar estudantes de baixo poder aquisitivo, além de entrar para a Academia de Ciências de Nova York, dar início a uma pesquisa científica autônoma (que recebeu cerca de dez reconhecimentos em feiras nacionais e internacionais), dar aulas de inglês gratuitas para jovens de baixa renda e participar do Parlamento Jovem Brasileiro e de um programa da Câmara dos Deputados, entre outras atividades, sem deixar de se dedicar aos estudos.
A aluna conseguiu extrair bons resultados da rotina pesada. “Aprendi a otimizar meu tempo. Então, sempre busquei usar cada segundo do dia de forma produtiva. Sempre fui uma pessoa muito organizada e metódica: planejava meus dias na noite anterior e estabelecia prioridades do que deveria ser feito primeiro. Também me dedicava a atividades extracurriculares e projetos pessoais, importantes para os processos seletivos das faculdades americanas. Eram dias muito corridos e movimentados, mas eu gostava muito de tudo que fazia. Eram experiências enriquecedoras e gratificantes.”
A aprovação
A aprovação em Harvard representou um misto de emoções para Sofia. Ela diz que se sentiu surpresa e incrédula por ter sido aprovada no ciclo de admissões mais competitivo da história. De 61.220 concorrentes, apenas 1.954 (cerca de 3,19%) foram aceitos neste ano. Também sentiu felicidade por visualizar a concretização de anos de esforço em um resultado que transformaria toda a sua vida dali pra frente. Para finalizar a equação, ansiedade e aflição contaminaram-na diante a sensação de ter escolher entre as célebres instituições.
Sofia pensa em cursar Química e Ciências Sociais com foco em Educação e Saúde Pública. Para ela, “além de despertar minha curiosidade intelectual, a química pode ser utilizada para ajudar no avanço da humanidade em muitas áreas, principalmente na área ambiental e da saúde humana.” Porém, está aberta a explorar outras áreas por ter até o fim do segundo ano da faculdade para oficializar a decisão.
A jovem enxerga a educação como um mecanismo transformador de vidas. “A educação de qualidade não mudou apenas a minha vida, como também a vida de muitas pessoas ao meu redor. Meu pai não teve a oportunidade de terminar o ensino médio na época em que estudava pois precisava trabalhar para ajudar a sua família. Quase 30 anos depois, vendo o impacto positivo da educação na minha vida, ele se inspirou a finalizar seus estudos por meio do EJA (Educação de Jovens e Adultos) e fazer um curso técnico.”
Agora, preparando-se para adentrar terras norte-americanas, ela deseja entender como pode mudar sistemas educacionais e políticos para que essas oportunidades se façam presentes para todos os jovens e os ajudem a furar a bolha da desigualdade social brasileira. “Nenhum sonho é tão grande que seja inalcançável e, se não foi conquistado ainda por alguém da sua comunidade, você pode tentar ser o primeiro a realizá-lo. Independentemente do resultado, você terá se tornado uma fonte de inspiração para as outras pessoas por simplesmente ter tido a coragem de tentar.”
*sob supervisão de André Rosa