Em momentos de problemas relacionados ao petróleo, como o que surgiu com a invasão russa da Ucrânia, o governo dos Estados Unidos recorre a algumas cavernas localizadas na Louisiana e no Texas, na região sul do país.
Agora, o mercado está muito volátil devido ao conflito na Europa: os preços do barril de petróleo estão atualmente acima de US$ 139, um valor 70% mais caro do que o registrado há um ano.
Diante disso, os EUA anunciaram na quinta-feira (31/3) que vão retirar 180 milhões de barris de suas reservas, a maior quantidade da história, na tentativa de conter a alta dos preços. O uso do produto emergencial nessa escala é inédito na história da reserva norte-americana, criada em 1974.
O presidente dos EUA, Joe Biden, indicou que o petróleo bruto que será liberado ficará disponível no mercado por um período de seis meses, até que os EUA consigam aumentar a produção interna.
No início de março, o governo dos EUA e outros países da Agência Internacional de Energia indicaram que iriam extrair mais 60 milhões de barris de reservas próprias. Destes, 30 milhões virão diretamente do país norte-americano.
A Reserva Estratégica de Petróleo (conhecida como SPR na sigla em inglês) é um depósito subterrâneo tão abundante que permitiu aos Estados Unidos sustentar o consumo de combustível em tempos difíceis e contribuir com o mercado em situações como a atual.
Entenda a seguir como e por que essa reserva foi criada.
Sal e petróleo
O petróleo bruto da SPR é armazenado em um sistema de 60 cavernas subterrâneas, perfuradas em rochas salgadas que se estendem entre as cidades de Baton Rouge, na Louisiana, e Freeport, no Texas.
O sal encontrado nesses ambientes é útil para proteger o petróleo bruto, já que essas substâncias não se misturam. Esses depósitos são considerados perfeitos para o armazenamento desse material.
A reserva americana tem capacidade para armazenar mais de 700 milhões de barris de petróleo bruto. Em 25 de fevereiro, havia 580 milhões de barris estocados lá, segundo o Departamento de Energia dos EUA.
Na superfície desses reservatórios não há muito para se ver, apenas algumas saídas de poços e tubulações.
Os oleodutos se estendem por milhares de metros no subsolo. Eles também contam com quantidades de água de alta pressão, que pode ser empurrada para extrair o óleo através de um processo simples de deslocamento.
As cavernas de sal não são completamente estáveis. Às vezes, as paredes e o teto delas podem desmoronar, causando danos às máquinas, que precisam ser cuidadosamente substituídas.
A manutenção dessa estrutura, portanto, tem um custo significativo: 200 milhões de dólares por ano.
Mas, em troca, os Estados Unidos saíram vitoriosos em vários incidentes que envolveram interrupções na importação de petróleo.
O país poderia, inclusive, passar vários meses sem outras fontes de petróleo caso isso se mostre necessário.
Como foi criado?
O depósito foi construído na década de 1970 após a crise econômica causada pelo embargo de petróleo que os países árabes impuseram aos governos das nações que apoiaram Israel durante a Guerra do Yom Kippur, em 1973.
Como consequência dessa interrupção no fornecimento, os preços do petróleo bruto quadruplicaram em 1974 e houve problemas de escassez de combustível nos Estados Unidos.
As pessoas tinham que ficar em longas filas para reabastecer os carros. Alguns temiam que a gasolina que tinham fosse roubada e começaram a se proteger portando armas de fogo.
E parte da infraestrutura industrial dos EUA — projetada para funcionar com combustível barato — foi levada à beira da obsolescência.
Foi assim que a ideia dessa reserva estratégica surgiu em 1975. O objetivo era proteger os Estados Unidos dos altos e baixos do mercado mundial de petróleo.
A SPR cumpriu essa função durante a Guerra do Golfo em 1991 e após o furacão Katrina em 2005, que, ao afetar parte da infraestrutura energética norte-americana, fez com que o petróleo da reserva estratégica fosse utilizado para suprir as necessidades nas regiões mais afetadas.