Os barulhos aparentemente vindos do subsolo e clarões no céu de Tarauacá, município localizado na região no noroeste do Acre, distante 381 km da capital e com uma população de 41 976 habitantes, já não preocupam apenas a população local. As explosões foram registradas nos últimos dois dias e isso fez com que o gabinete do governador do Estado colocasse o Corpo de Bombeiros Militares do Acre (CBMAC) de prontidão para a necessidade eventuais atendimentos emergenciais no município, segundo anunciou, nesta quarta-feira (2), a Agencia de Notícias do Acre, pertencente ao Governo do estadual.
Tarauacá é uma das sete cidades brasileiras que foram construídas sob solo onde há grande probabilidade de atividades de terremotos, dizem agências de monitoramento deste tipo de evento.
De acordo com a Agência de Noticias, de acordo com os relatos e registros, “o fenômeno foi ainda mais forte nesta quarta-feira, 2, por volta das 4h20 da manhã”. Desta vez, alguns vídeos de câmera de segurança captaram o ruído e a movimentação em diversos pontos da cidade. O que mais chama a atenção é que a plataforma oficial não registrou terremotos recentes na região. Vídeos de rachaduras em casas foram compartilhados por alguns internautas e, diante da situação, o Corpo de Bombeiros da cidade está acompanhando e fazendo algumas vistorias, segundo o comandante da região, capitão Marcos Corrêa, especialista em operações em desastres.
“Realmente, nos últimos dois dias conseguimos detectar alguns abalos sísmicos em nosso município. Inclusive o de hoje foi bem mais perceptível do que o de ontem, que também foi na madrugada. Eu estava acordado no momento e pude sentir. Devido aos registros de alguns vídeos, estamos fazendo algumas verificações e vamos atualizar, caso algo relevante for encontrado”, esclarece.
Para o professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Waldemir dos Santos, doutor em Geografia e autor do projeto “Eventos tectônicos no Acre: levantamento e caracterização da ocorrência de terremotos” e coordenador do Laboratório de Geomorfologia e Sedimentologia da instituição, não não se trata de um terremoto. Mas, segundo ele, mas o fenômeno pode estar relacionado com a queda de fragmentos de um meteorito, o que explicaria a incidência de tremor, em dois dias seguidos, e também o clarão visto no céu.
“Não existe, em nenhum órgão oficial, nem na USGS [órgão americano que registra terremotos em nível mundial], nenhum registro de que tenha sido por causa de movimentação de placa tectônica, embora seja uma região com alta probabilidade para isso”, acrescenta.
Meteorito é um fragmento de rocha que atravessa a atmosfera e chega à superfície a uma velocidade que varia entre 10 a 72 km/s, causando estrondo e clarão, em razão de chegar aquecido, podendo vir a causar incêndios, segundo Santos. O pesquisador destaca ainda que o laboratório trabalha com a perspectiva da possibilidade, já que, apesar de existir o Brazilian Meteor Observation Network (Bramon), que é uma rede de observação de meteoros no Brasil, com quatro estações e oito câmeras, não há nenhum operador desse sistema no Acre, o que impede a obtenção de dados concretos.
Pesquisas mostram que o Brasil tem 48 grandes falhas tectônicas em seu território, e várias cidades estão exatamente em cima delas. Por muito tempo divulgou-se a ideia de que no Brasil não ocorrem terremotos, mas esse consenso vem do fato de os abalos sísmicos no Brasil não terem a intensidade dos que acontecem em outros países, como no Japão e nos Estados Unidos, e raramente causarem estragos significativos, mas estudos aprofundados mostraram que isso não é verdade. No entanto, eles acontecem no país, inclusive na Amazônia, mais precisamenete em Tarauacá, na região do vale do Juruá, no Acre.
Para entender os terremotos e a ocorrência deles no Brasil é preciso compreender as chamadas falhas geológicas (também conhecidas como falhas tectônicas), estruturas da crosta do planeta que dão origem aos terremotos. Recentemente, uma delas chamou a atenção dos cientistas por liberar um líquido muito estranho.
Tais formações geológicas existem no Brasil, e várias cidades do país estão em cima delas, segundo estudos geológicos recentes, incluindo Tarauacá. A grande diferença é que o Brasil está praticamente no centro da placa tectônica sul-americana, o que torna mais rara a possibilidade de tremores fortes, geralmente registrados nas bordas dessas placas de tamanho continental.
Porém, mesmo uma placa sólida como a do nosso continente apresenta falhas — a maioria invisível da superfície. Pesquisa do Instituto de Geociências da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) identificou 48 falhas geológicas mestras no território nacional, “algumas delas com quilômetros de extensão”, segundo o professor Allaoua Saadi, coordenador da pesquisa publicada em 2002.
Segundo o cientista, a maioria das falhas está no Sudeste e Nordeste do território nacional. Mesmo com tal mapeamento, é praticamente impossível prever onde ocorrerão terremotos, ou qual seria a intensidade deles, mas é certo afirmar que é nessas regiões do país que os terremotos terão seu epicentro.