Os ataques de Israel no sul do Líbano causaram o deslocamento forçado de mais de 200 mil pessoas desde terça-feira (24), segundo estimativas do Ministério da Saúde libanês. Entre eles, diversos brasileiros que, agora, vivem sob a incerteza em relação ao futuro do país que escolheram.
É o caso de Leni Souza, que mora na cidade de Maarakeh há 15 anos. Ela relatou à CNN Brasil que deixou sua casa na terça-feira (24), depois de uma noite intensa de bombardeios em seu bairro.
“Os caças faziam tanto barulho que a casa tremia toda. Eles estavam abatendo civis em suas casas. Coloquei minhas filhas dentro do carro e saímos, sem saber pra onde ir nem ter um abrigo”, conta Leni.
Ela, o marido e as três filhas estão, agora, numa região montanhosa que, por enquanto, não foi alvo de bombardeios israelenses.
Eles conseguiram alugar o segundo andar da casa de um morador da região.
Leni explica que quer voltar ao Brasil, mas que — como muitas famílias no Líbano — teria dificuldade de fazer a viagem sem a ajuda do Itamaraty.
O Ministério das Relações Exteriores brasileiro ainda avalia a possibilidade de uma missão de resgate.
“Antes, eu não pensava em sair daqui. Minha vida era muito tranquila no Líbano. Mas eles estão destruindo tudo no sul do Líbano. É como se fosse um filme de terror”, relata Leni.
Acnur pede apoio internacional
Com centenas de milhares de refugiados na fronteira sul do Líbano, crescem também os desafios humanitários da região. O país já é o destino de mais de um milhão de refugiados sírios, que deixaram a nação vizinha por conta da guerra civil.
O Acnur, a agência da ONU para refugiados, fez um apelo para a proteção dos civis no Líbano.
À CNN Brasil, a porta-voz do Acnur no Oriente Médio, Shabia Mantoo, afirmou que a lei internacional precisa ser resguardada apesar do conflito entre o Hezbollah e Israel.
“Agora é a hora para a comunidade internacional se levantar e ajudar o Líbano e seu povo que precisa do nosso comprometimento hoje mais do que nunca”, disse Mantoo.
Dois brasileiros morrem em bombardeios
Só nesta semana, dois brasileiros que moravam no Líbano morreram em bombardeios israelenses.
Na quinta-feira (26), Mirna Raef Nasser, de 16 anos, morreu após ser atingida por um foguete no norte do Líbano. O pai dela, que é libanês, também morreu no incidente.
Já Alim Kamal Abdallah, também um adolescente brasileiro, morreu na quarta-feira (25), no vale do Beqaa, uma das regiões mais afetadas do país.
Entenda o conflito entre Israel e Hezbollah
Israel tem lançado uma série de ataques aéreos em regiões do Líbano nos últimos dias. Na segunda-feira (23), o país teve o dia mais mortal desde a guerra de 2006, com mais de 500 vítimas fatais.
Segundo os militares israelenses, os alvos são integrantes e infraestrutura bélica do Hezbollah, uma das forças paramilitares mais poderosas do Oriente Médio e que é apoiada pelo Irã.
A ofensiva atingiu diversos pontos no Líbano, incluindo a capital do país, Beirute. Milhares de pessoas buscaram refúgio em abrigos e deixaram cidades do sul do país.Além disso, uma incursão terrestre não foi descartada.
O Hezbollah e Israel começaram a trocar ataques após o início da guerra na Faixa de Gaza. O grupo libanês é aliado do Hamas, que invadiu o território israelense em 7 de outubro de 2023, matando centenas de pessoas e capturando reféns.
Devido aos bombardeios, milhares de moradores do norte de Israel, onde fica a fronteira com o Líbano, tiveram que ser deslocados. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu diversas vezes fazer com que esses cidadãos retornem para suas casas.
No dia 17 de setembro, Israel adicionou o retorno desses moradores como um objetivo oficial de guerra.
Foto: REUTERS/Stringer