Cruzeiro do Sul, Acre 27 de novembro de 2024 04:41

Denúncias de violência contra a mulher no Ligue 180 registram aumento de 35,6% no Acre em 2024

Até julho deste ano, o Ligue 180 recebeu 213 denúncias de violência contra a mulher no Acre. O número representa um aumento de 35,67% em relação ao mesmo período do ano passado. A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana.

Do total de denúncias, 116 foram feitas pela própria vítima e em 96 dos casos a denúncia foi feita por uma terceira pessoa. Na maioria dos casos, a mulher foi violentada dentro da própria casa.

Os dados levantados no Acre mostram ainda que em 147 desses casos a vítima era preta ou parda. E o marido ou companheiro ainda é o maior agressor. Foram 84 casos em que eles apareceram como suspeitos.

Os dados são do Ministério das Mulheres divulgados nesta segunda-feira (19) e fazem parte da campanha “Feminicídio Zero — Nenhuma violência contra a mulher deve ser tolerada”, que marca o aniversário de 18 anos da Lei Maria da Penha.

A ação tem outro simbolismo: o mês de agosto é dedicado à conscientização para o fim da violência contra a mulher. O governo federal anunciou também que, durante o ‘Agosto Lilás’, uma reestruturação do Ligue 180 deve ocorrer.

Até julho, em todo Brasil, já foram recebidas 84,3 mil denúncias de violência contra as mulheres. Houve um aumento de 33,5% em relação ao mesmo período em 2023.

Pacto Estadual de Prevenção aos Feminicídios

No Acre, nos primeiros sete meses, ao menos cinco mulheres foram vítimas de feminícidio. Para tentar reduzir esses dados, autoridades assinaram na tarde desta segunda um Pacto Estadual de Prevenção aos Feminícidios.

“Esse é o nosso objetivo: feminicídio zero. Acabar com tanta violência e ações como essas vão cada dia mais fortalecendo tanto a capacidade pra enfrentar esse problema e proteger as mulheres”, disse a vice-governadora do Acre, Mailza Assis, durante o evento.

A secretária de Estado da Mulher, Márdhia El-Shawa, destacou que a denúncia pode ser anônima e qualquer pessoa, seja ela amiga, vizinha, parente, conhecida, pode ligar e ajudar a livrar a mulher de uma situação violenta.

“Pode ser a filha, quem tiver conhecimento que essa mulher está sofrendo violência. Pode ligar para o 180, se a violência estiver acontecendo agora liga pro 190 da nossa Polícia Militar”, afirmou.

O evento também contou com a participação da servidora pública e membro do movimento trans do Acre, Ruby Rodrigues, e da coordenadora do Centro de Atendimento à Vítima (CAV) do Ministério Público Estadual (MP-AC), Patrícia Rêgo.

Como a primeira servidora trans empossada no MP-AC, Ruby relembrou que dentro da comunidade LGBTQIAPN+ as mulheres trans são as mais assassinadas e destacou a importância da iniciativa.

“Essa ação valoriza ainda mais as questão de identidade de gênero, valoriza as ‘mulheridades’, e a gente aborda o público de mulheres lésbicas que também acabam sendo assassinadas vítimas de feminicídio”, pontuou.

A procuradora de Justiça Patrícia Rêgo ressaltou que as mulheres trans sofrem diversos tipos de violência, desde abandono familiar, rejeição na escola, falta de oportunidades e respeito.

“A gente sabe que as mulheres trans, em regra, saem da família, são botadas para fora, vão pra rua se prostituir. É um público que sai da escola por conta de bullying, então, elas não têm escolarização, oportunidades de trabalho e vamos buscar alternativas , caminhos, políticas públicas para o enfrentamento de todas as violências”, argumentou.

Colaborou o repórter Júnior Andrade, da Rede Amazônica Acre.