Cruzeiro do Sul, Acre 24 de novembro de 2024 06:55

Mudanças climáticas aumentam risco e intensidade de incêndios no Pantanal

As mudanças climáticas causadas pelo homem deixaram 40% mais intensas e de 4 a 5 vezes mais prováveis as condições quentes, secas e ventosas no Pantanal, impulsionando os incêndios catastróficos durante junho deste ano. A informação é do primeiro estudo de atribuição sobre este evento realizado pela World Weather Attribution (WWA), uma rede internacional de cientistas de clima.

O estudo foi conduzido por 18 pesquisadores como parte do grupo World Weather Attribution (WWA), incluindo cientistas de universidades e agências meteorológicas no Brasil, Portugal, Estados Unidos, Suécia, Países Baixos e Reino Unido.

“Os incêndios no Pantanal deste ano têm o potencial de se tornarem os piores de todos. Esperam-se condições ainda mais quentes ao longo deste mês e dos próximos meses, e há uma ameaça considerável de que os incêndios possam queimar mais de três milhões de hectares”, alerta Filippe Lemos Maia Santos, cientista brasileiro participante do estudo.

O levantamento destaca a necessidade urgente de substituir os combustíveis fósseis por energia renovável globalmente, reduzir o desmatamento e reforçar as proibições de queimadas controladas para enfrentar o impacto dos incêndios florestais na vida selvagem, comunidades indígenas e agricultores.

“Nosso estudo deve ser visto como um alerta – se o mundo continuar queimando combustíveis fósseis, ecossistemas preciosos como o Pantanal e a floresta amazônica podem ultrapassar pontos de inflexão onde a recuperação natural de incêndios florestais e secas se torna impossível”, disse Friederike Otto, professora de Ciências Climáticas no Grantham Institute do Imperial College London.

Dados do Estudo

Bombeiros tentam combater incêndios no Pantanal em junho de 2024
Crédito: Bruno Rezende/Governo do Rio Grande do Sul

O Pantanal, maior pântano tropical do mundo, está vivenciando uma temporada devastadora de incêndios. Mais de 1,2 milhão de hectares (12.000 km²) são considerados queimados – cerca de 8% do Pantanal brasileiro. Os incêndios começaram no final de maio, após uma temporada de chuvas extremamente fraca.

Em junho, o Pantanal registrou incêndios florestais devastadores, com uma estimativa de 440.000 hectares queimados, quebrando o recorde anterior de junho de 257.000 hectares. O pico da temporada de incêndios normalmente ocorre em agosto e setembro

Antes das mudanças climáticas, as condições de clima para incêndios observadas em junho eram extremamente raras – esperadas apenas cerca de uma vez a cada 160 anos. Agora são quase cinco vezes mais prováveis, estimadas para ocorrer cerca de uma vez a cada 35 anos. Se o aquecimento global alcançar 2°C, condições semelhantes de clima para incêndios em junho se tornarão 17% mais intensas e ocorrerão em média cerca de uma vez a cada 18 anos.

Mais de 90% do Pantanal está fora de áreas protegidas, das quais cerca de 80% é utilizado para pecuária, onde o fogo é usado para limpar a vegetação e para criar novos pastos. As origens dos incêndios ocorridos em junho são investigadas pela Polícia Federal.

Impacto na Biodiversidade

O Pantanal é um hotspot de biodiversidade, lar de espécies ameaçadas como jaguares, lontras gigantes e cervos-do-pantanal. É provável que os incêndios deste ano já tenham matado milhões de animais – estima-se que 17 milhões de vertebrados tenham morrido na temporada de incêndios de 2020 no Pantanal.

Animais buscam água em área atingida pela seca em Poconé (MT).
Crédito: GRAD/ ICMBio

“Corpos carbonizados de cobras, jacarés e macacos são uma ilustração trágica da devastação ecológica causada pelos incêndios no Pantanal. É provável que milhões de animais já tenham perecido nos incêndios florestais”, afirma Otto.

Os cientistas concordam que as mudanças climáticas estão aumentando o risco de incêndios florestais começarem e se espalharem à medida que o calor persistente seca os solos e a vegetação, criando condições mais inflamáveis. Para quantificar o efeito do aquecimento causado pelo homem nos incêndios do Pantanal, os pesquisadores analisaram dados climáticos e modelos climáticos usando métodos revisados por pares.

O estudo focou nos incêndios florestais que ocorreram durante junho no Pantanal brasileiro e analisou o Daily Severity Rating (DSR), uma métrica que considera temperatura, umidade, velocidade do vento e precipitação para estimar a intensidade potencial de um incêndio e quão difícil será apagá-lo. As temperaturas no Pantanal estão se tornando mais quentes e a precipitação e umidade relativa estão diminuindo à medida que o clima aquece, aumentando significativamente o risco de incêndio.