O ex-governador do Acre, Romildo Magalhães, faleceu aos 78 anos na madrugada deste domingo, 14, após ficar cerca de 20 dias internado numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Hospital Santa Juliana, em Rio Branco, por complicações de saúde. Ele já estava debilitado há anos devido diabetes, problemas renais crônicos e cardiopatia.
Conforme divulgado pela família de Romildo à reportagem, o velório acontece a partir das 9 horas no Palácio Rio Branco. O sepultamento será no Cemitério São João Batista, ainda sem definição do horário.
Nascido em 9 de abril de 1946 na cidade de Feijó, no interior do Acre, Romildo exerceu três mandatos de vereador na cidade, de 1966 a 1979. Em 1979 foi nomeado pelo presidente João Figueiredo como prefeito do município de Feijó, exercendo o mandato até 1982.
Em 1983, com a popularidade de ter sido nomeado por um presidente, Romildo Magalhães foi eleito deputado estadual por duas legislaturas, até 1990. Ainda em 1990 foi eleito vice-governador na chapa de Edmundo Pinto, que foi assinado em 1992. A partir da morte de Edmundo, Romildo assumiu o mandato de governador, exercendo a função até 1 de janeiro de 1995.
20 anos depois de constantes bajulações comuns a um chefe do Executivo, em 26 de abril de 2015, em entrevista exclusiva ao ac24horas, o 13º governador do Acre reclamou do abandono dos “amigos”, fez revelações e disse ter se decepcionado com o cargo.
Veja falas impactantes de Romildo Magalhães:
Sobre decepção com o cargo de Governador: “Tem que fazer conchavo com esse negócio de partido, porque senão o partido não apoia, não vota. Tem que dar secretaria tal, tem que dar os cargos de confiança tais e tem que dar emprego…é um negócio complicado, é uma exigência absurda. Se não der vai pro pau!”.
Sobre o desaparecimento dos amigos após a perda do poder: “Eu busquei de todos os lados, usando de todos os meios, para ter um bom relacionamento com o Ministério Público, com o Tribunal de Contas, com o Tribunal de Justiça, com a Assembleia Legislativa, mas fico pensando como mudam as pessoas. Quando lembro que todo esse pessoal vivia dentro da minha casa, batendo tapinha nas minhas costas. [Neste momento ele faz uma pausa, coloca a mão na cabeça e gira o pescoço de um lado para o outro num gesto que representa negativa]. Me sinto esquecido. O homem só vale o que tem. Eu hoje não valho mais nada não [neste momento o ex-governador fica emocionado e com dificuldade para falar]. Eu valho ainda alguma coisa para a minha mulher, para os meus filhos, mas amigo eu não tenho mais”.
Sobre os segredos de estado: “Da mesma maneira que um Presidente da República tem com ele os segredos, o sigilo de Estado do seu país, o governador também tem os segredos do seu Estado. Se eu colocasse a boca no trombone e revelasse segredos de Estado, o negócio ia virar uma farinhada. Eu guardo segredo de todo mundo e vou levar pro túmulo. Eu guardo segredo de muita gente que se diz a grande reserva moral da política, a grande reserva moral da honestidade. Honestidade, ó! [Romildo cruza os braços e dá uma banana]”.
Assassinato do filho fazia Magalhães chorar todos os dias
Segundo notícia do jornal Folha de São Paulo publicada em 20 de julho de 1995, RomildoMagalhães Júnior foi morto com um tiro em sua casa na madrugada do dia 17 do mesmo mês, durante tentativa de assalto ao Haras 5 Irmãos, onde ele morava, no quilômetro 13 da estrada Transacreana, em Rio Branco.
Segundo a polícia, o haras do ex-governador teria sido invadido por quatro homens com o objetivo de praticar o assalto. A dinâmica do crime nunca foi esclarecida, mas sabe-se que os criminosos fugiram após atirar contra o estudante. A bala entrou pela costela direita e atravessou o corpo do rapaz, que morreu na hora.
Na entrevista de 2015 ao ac24horas, Romildofalou da dor de ter perdido o filho de forma trágica, mas disse que perdoou os criminosos. “Eu sinto e choro isso todos os dias. Na verdade falar disso me incomoda. A perda de um filho é irreparável. Filho é sempre filho. É muito dolorido, principalmente pela maneira que mataram o meu filho. Foi algo covarde e isso eu não consigo esquecer…Essa ferida não sara, ela não fecha de jeito nenhum. Perdoei. Se eu não perdoar, como vou para o céu?”, disse.
Em última entrevista, Romildo Magalhães disse ter feito pelo Acre tudo o que estava ao seu alcance
No dia 11 de abril de 2023, em sua última aparição pública, no Bar do Vaz (ac24horas) Romildo Magalhães encheu de elogios o governador Gladson Cameli e avaliou que enquanto ocupou a cadeira fez tudo o que pôde para ajudar o Estado a se desenvolver. “Dentro das possibilidades do estado e da minha, atendi a todos”, disse.
“Eu peço que Deus olhe para o Brasil, que abençoe o presidente Lula que o povo escolheu, que ele possa fazer em todos os estados o que puder de melhor, pelo nosso governador Gladson Cameli, para que ele possa fazer uma boa administração. Peço pela vida de todos os brasileiros, da minha família, que Deus nos mantenha sempre com essa calma, com essa esperança, com essa confiança de que vamos ter um Brasil bem melhor”, foram suas últimas palavras públicas.