Cruzeiro do Sul, Acre 25 de novembro de 2024 15:23

Na luta contra o câncer, deputada do AC fala sobre tratamento e fé em vencer a doença: ‘me sinto curada’

“A minha primeira reação foi de choro e me perguntar quanto tempo ainda tinha de vida e como contaria para os meus pais”. Este é o relato da deputada federal pelo Acre, Jéssica Sales, natural de Cruzeiro do Sul, no interior do estado. Ela luta contra um câncer de mama há quase cinco meses.

g1 conversou com a deputada de 41 anos que vem superando as adversidades da vida com bom humor, positividade e apoio da família e amigos. Além do câncer triplo negativo na mama esquerda, ela descobriu, já em março de 2022, câncer de pele que ela afirma já estar livre após fazer o procedimento de retirada.

A descoberta do câncer de mama foi através de exames de rotina. A deputada contou que em 2002 teve a presença de um cisto mamário e fazia acompanhamento desde então. Em julho de 2021, ela disse que apareceu um nódulo que era benigno e o protocolo era repetir o exame em seis meses e em dezembro foi feito o novo exame que mudou tudo em sua rotina.

“Em dezembro tive que vir a São Paulo e aproveitei para repetir o exame. Quando fiz a ultrassonografia, já veio um nódulo diferente, com irregularidades na sua forma e estava com característica maligna e complementei com a mamografia e foi confirmado no exame de imagem que era muito provável o câncer que foi confirmado através da biópsia”, contou sobre a descoberta.

 

O Acre registrou mais de 160 novos casos de câncer de mama e de colo do útero nos primeiros nove meses de 2021, segundo dados são do Núcleo de Prevenção de Doenças Crônicas da Secretaria Estadual de Saúde referentes ao período de janeiro a setembro de 2021.

Foto: Arquivo pessoal

Choque

Quando recebeu o laudo, a deputada, que ainda não tinha revelado nada sobre a investigação do possível câncer para a família, resolveu abrir o documento sozinha e foi quando teve o choque inicial.

“Por ser médica, abri o exame. Quando abri, minha primeira reação, que acho que á da maioria das pessoas que recebe um diagnóstico de câncer, foi chorar. Olhei o laudo e comecei a chorar e pensei: quanto tempo tenho de vida? Como vai ser minha vida agora? Como vou falar isso para os meus pais? Pensei nessas coisas”, relatou.

 

Católica e com uma fé inabalável, Jéssica disse que depois desse impacto da descoberta, não se abateu mais pelo diagnóstico da doença que foi descoberta ainda no estágio inicial.

“Confesso que foi a única vez que chorei pelo diagnóstico porque depois disso veio essa força que é de Deus e que me levantou. E foi dessa forma que encarei, primeiro as perguntas e depois levar ao médico”, pontuou.

Foto: Arquivo pessoal

Tratamento

A deputada está concluindo a primeira fase do tratamento, que é a quimioterapia. Mas, para o tipo de câncer que ela tem, ainda devem ser feitas mais duas etapas, que inclui a retirada das mamas e radioterapia.

“A minha médica disse que esse câncer é muito agressivo e tem tratamento específico. A primeira fase é a da terapia branca que a gente chama, depois tem a quimioterapia vermelha, seguida da mastectomia bilateral, ou seja, eu preciso retirar as duas mamas e terceiro vem a radioterapia. Esse é o tratamento proposto pelo tipo de câncer de mama”, revelou.

Concluindo a primeira fase do tratamento, Jéssica deve voltar ao Acre neste final de semana. Ainda na primeira quinzena de abril, ela deve seguir para a segunda etapa, mas vai ter que ir a São Paulo fazer o procedimento e retornar ao estado acreano por ser feito a cada 15 dias.

Foto: Arquivo pessoal

Descoberta precoce

A oncologista e vice-diretora do Hospital Sírio-Libanês, Marina Sahade, responsável pelo tratamento de Jéssica, disse que todo câncer de mama tem um “sobrenome”, e como é importante que a paciente saiba o seu para buscar o melhor tratamento. São basicamente três tipos: hormônio positivo, HER 2 positivo e triplo negativo. Este último é o diagnóstico de Jéssica.

“Quanto mais precoce o diagnóstico maior a chance de cura, em qualquer tipo. No caso das pacientes com tumores iniciais localizados apenas na mama, ou na mama e na axila (nos gânglios), o tratamento sempre irá envolver cirurgia e, em muitos casos, também a quimioterapia, radioterapia, e hormonioterapia”, pontuou.

A médica explicou que para o caso da deputada é muito comum que seja indicada a quimioterapia antes da cirurgia, para que o tratamento tenha início o mais rápido possível, permitindo que o tumor reduza ou até desapareça até a cirurgia.

“No caso da Jéssica, o tratamento iniciou com quimioterapia contendo uma modalidade nova, usada especificamente para os tumores triplo negativos, que é a imunoterapia. Após o tratamento, ela será submetida à cirurgia e depois radioterapia”, explicou.

 

A oncologista acrescentou que o tratamento dela vem caminhando bem e em pouco tempo já apresentou uma boa resposta e com boa tolerância. O que ajuda a desmistificar o câncer e mostra como é possível estar em tratamento e seguir fazendo atividade física e trabalhando.

Além disso, a profissional alerta que quanto antes o diagnóstico, mais chances de cura. “Vale reforçar sobre rastreamento e detecção precoce: autoexame para todas as mulheres e mamografia anual acima dos 40 anos.”

Fé e apoio da família

Apesar de se um câncer agressivo, a parlamentar disse que por ter descoberto ainda no início, o tumor que tinha aproximadamente 5 centímetros e já reduziu bastante.

“Toda quinta-feira passo algumas horas dentro do hospital e os efeitos colaterais também fui muito abençoada por Deus, pois são muito poucos. Por isso podem me ver alegre. E essa é minha última sessão de quimioterapia branca. Foram 12 sessões e por isso esse tempo de quase cinco meses e vou ao Acre e passar alguns dias e retorno para iniciar a segunda fase, dia 14 de abril”, contou.

Além disso, ela falou ao g1 que após o diagnóstico, a notícia que mais a abalou foi a de que perderia os cabelos.

“A médica disse que ia arrancar a mama, mas o que mais mexeu comigo, porque é umas das principais vaidades da mulher e envolve autoestima, foi o momento de ver meus cabelos caindo e saber que ia ter que raspar minha cabeça”, relembrou.

Considerada para ela a parte mais difícil do tratamento, as perguntas que surgiam eram de como ia ser vista pelas pessoas. Mas, o apoio da família foi crucial nesse momento e ela foi surpreendida pelo pai, Vagner Sales, que raspou a cabeça em apoio à fase que ela estava passando. Depois do processo veio o alívio.

“Quando cheguei ao salão, meu pai me acompanhou e ele raspou antes de mim, e foi uma emoção que não consigo descrever. Quando o cabeleireiro começou a raspar, a minha sensação foi de alívio, libertador. Olhei no espelho e parece que estava recebendo algo novo dentro de mim, por isso a sensação foi de alegria, olhei no espelho e me achei linda. E foi um dia seguido do outro, não uso peruca, em alguma ocasião vou usar, mas resolvi e estou segura, apesar de estar careca não me diminui como mulher.”

 

Câncer de pele

Além do câncer de mama, neste mês, a deputada recebeu o diagnóstico de câncer de pele por causa de exposição ao sol. Mas, ela afirma que na última semana passou por um procedimento de retirada da mancha que estava próximo ao nariz e está livre do problema.

“Foi muita exposição ao sol. Provavelmente com essa quimioterapia que deixa a pele muito sensível, então, qualquer radiação que se tome, mesmo dentro de casa, pode ter sido agravado por conta da radiação e a pele estar mais sensível. Graças a Deus tive a sorte de minha médica ter visto e disse para gente retirar porque não parecia ser só uma mancha e acreditava ser um câncer benigno de pele”, contou.

Após a retirada da mancha, foi feita a biópsia que confirmou o câncer de pele. “Mas, já está resolvido o problema. Agora estou com câncer de mama e desse Deus disse que estou curada. A médica ainda não disse, mas Deus sim.”

Inabalável diante do câncer, Jéssica conclui dizendo que manter a fé, positividade junto com o apoio das pessoas importantes faz toda diferença no processo de tratamento e acredita na cura.

“Posso dizer que é fundamental o apoio que tive da minha família, da minha noiva Caroline, das pessoas que me amam, meus amigos e das pessoas que eu não conheço e me colocam nas suas orações, em pensamentos positivos e, principalmente, a minha fé. Esse contato com Deus faz com que eu sinta dentro do meu coração, me sinto curada. É uma coisa fundamental no tratamento de qualquer pessoa com câncer, quando recebe esse diagnóstico, ter o apoio da família, mesmo não sabendo o que vai acontecer e se você colocar esse pensamento positivo e colocar que Deus vai curar, não desmoronar quando o cabelo cair, vai diminuindo as dores. Então, tenho gratidão a Deus por saber que não estou só”, concluiu.