Cruzeiro do Sul, Acre 26 de novembro de 2024 11:47

Banda Calcinha Preta doa R$ 30 mil para vítimas de enchente no Acre

A banda Calcinha Preta doou R$ 30 mil para ajudar vítimas das enchentes históricas que atingem o Acre desde o final de fevereiro. O dinheiro é parte do cachê do show que a banda deve fazer no estado no dia 28 de março.

Além disso, Daniel Diau e Bell Oliver, integrantes da banda, fizeram um vídeo (veja acima) pedindo doações para a campanha ‘Juntos pelo Acre’,  um projeto do Governo do estado para arrecadar cestas básicas, água mineral, kits de limpeza e produtos de higiene pessoal. A peça foi postada nos canais oficiais da banda.

O g1 entrou em contato com a banda, mas não teve resposta até a publicação desta reportagem.

De acordo com Leôncio Castro, empresário responsável pelo show no Acre, partiu dele a iniciativa de utilizar o show como plataforma para ajudar a população necessitada do estado.

“A ideia surgiu da Bar’Tô Entretenimentos, mas logo a Marca Eventos e a banda Calcinha Preta abraçaram, e resolvemos cada um dar uma parte e chegar ao valor doado, e lançar uma campanha em nível nacional com objetivo de incentivar as pessoas ajudarem também”, conta.

O empresário diz que assim que tomou conhecimento da situação do estado, os integrantes da banda se propuseram a ajudar.

Enchente histórica

O nível do Rio Acre alcançou a marca de 17,89 metros na medição das 9h desta quarta-feira (6), segundo a Defesa Civil de Rio Branco, aumentando cinco centímetros em comparação com a primeira medição do dia.

Bairro Seis de Agosto, no Segundo Distrito de Rio Branco, está coberto pelas águas do Rio Acre que já ultrapassam os 17 metros — Foto: Quésia Melo/Rede Amazônica

Com isso, a capital está a menos de 60 centímetros da maior cota histórica já registrada, que é de 18,40 metros em 2015. Essa já é a segunda maior cheia da história, desde que a medição começou a ser feita, em 1971.

Poucos meses separam o ápice de uma seca severa e a chegada de enchentes devastadoras no Acre. Para entender as crises sucessivas que levaram emergência para o estado é preciso considerar ao menos três fatores:

  • a influência do El Niño
  • o atraso do “inverno amazônico”, como é conhecida a estação chuvosa na região
  • o impacto do aquecimento do Oceano Atlântico

Atualmente, o manancial está a seis dias acima dos 17 metros. A primeira vez que o Rio Acre alcançou a marca histórica foi em 29 de fevereiro.

O Rio Acre alcançou a maior marca de todos os tempos em 4 de março de 2015. À época, mais de 100 mil pessoas foram atingidas pelo avanço das águas. O governo estadual decretou situação de emergência e estado de calamidade pública, que foram reconhecidos pelo governo federal. O manancial ficou 32 dias acima da cota de alerta, que é de 13,50 metros.

Somente nos abrigos mantidos pela prefeitura de Rio Branco, no Parque de Exposições e escolas, são cerca de 4,6 mil pessoas desabrigadas, segundo a Defesa Civil Municipal:

  • Parque de Exposições Wildy Viana: 800 famílias, mais de 4 mil pessoas
  • Escolas da capital: 184 famílias em 10 escolas da capital, um total de 600 pessoas

Em todo o estado, pelo menos 27.434 pessoas estão fora de casa, dentre desabrigados e desalojados, segundo a última atualização feita pelo governo do estado nesta terça (5). Além disso, 19 das 22 cidades acreanas estão em situação de emergência por conta do transbordo de rios e igarapés. Ao menos 23 comunidades indígenas no interior do Acre também sofrem com os efeitos das enchentes e quatro pessoas já morreram em decorrência da cheia.

Ministros no Acre

Na última segunda-feira (4), uma comitiva do governo federal chegou ao Acre para dar assistência aos atingidos pela cheia. Vieram, entre outros, o ministro de Desenvolvimento Regional, Waldez Góes e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Em entrevista coletiva, ele disse que as ajudas humanitárias ao estado devem superar os R$ 30 milhões que foram enviados no ano passado, quando o Rio Acre e igarapés transbordaram na capital.

“Temos que considerar depois o restabelecimento, reconstrução de muitos ambientes que estão sendo perdidos e trabalhar a questão da adaptação, que a ministra Marina conduz esse projeto que é muito importante, tem o Fundo Clima que ela vai se referir, tem valores da adaptação climática”, destacou.

Cheia no Rio Acre atinge 7 municípios — Foto: Arte g1

A ministra Marina Silva destacou que eventos como as enchentes são agravadas por alguns fatores: desmatamento, assoreamento de rios e a mudança do clima.

“Por isso estamos trabalhando um plano estruturante, são nove ministérios trabalhando para que a gente possa dar uma resposta junto com os estados mais ponderáveis e os municípios mais ponderáveis. E, obviamente, a principal ação é enfrentar a causa do problema: desmatamento, que aumenta a temperatura da terra, faz com que a haja o assoreamento dos rios e também faz com a gente tenha cada vez mais esses eventos”, confirmou.

O Governo Federal liberou ainda mais de R$ 20 milhões para as ações de assistência aos atingidos pelas enchentes no Acre, na capital e no interior do estado. As portarias foram publicadas nas edições dos dias 29 de fevereiro e esta segunda-feira (4) no Diário Oficial da União (DOU). Para capital Rio Branco foram destinados mais de R$ 4 milhões.

Em edição extra do Diário Oficial do Estado (DOE) de sexta-feira (1º), o governo do Acre declarou emergência em saúde pública no estado em razão da cheia dos rios e o volume das chuvas que atingem 19 municípios do estado, desde o dia 21 de fevereiro. O decreto tem vigência de 180 dias.

Localizado em uma zona próxima à linha do Equador, o Acre tem clima equatorial caracterizado por altas temperaturas e umidade. O verão geralmente dura entre os meses de junho a agosto. Já o inverno vai de outubro até março.

Em abril e maio, há um período de transição das chuvas para a seca e em setembro a transição de volta ao período chuvoso. O ápice da estação pluvial ocorre geralmente entre janeiro e março. Com isso, sobem os níveis dos rios em toda a região amazônica, já que chove muito, principalmente nas nascentes destes mananciais.

Renato Senna, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Amazônica (INPA), explicou ao g1 que as características da estação chuvosa são céu encoberto e chuvas contínuas, diferentemente do que se tem observado nas últimas semanas. Além disto, destacou a influência do El Niño na cheia do Rio Acre.

“Quando as pancadas acontecem muito próximas à cabeceira dos rios, o nível sobe muito rápido. Mas, a tendência é também descerem rapidamente se a chuva não for contínua”, avalia.

Enchentes no Acre começaram em Assis Brasil na segunda quinzena de fevereiro — Foto: Arte/g1

Previsão do tempo

Nesta quarta-feira (6), de acordo com os dados do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), um sistema meteorológico conhecido como Alta da Bolívia, que se forma em altos níveis da atmosfera a 12 Km de altura, predomina sobre o sul da Amazônia e favorece a organização de áreas de instabilidade sobre a região, inclusive sobre o Acre.

A previsão do tempo em todo Acre é de céu nublado a encoberto com chuva a qualquer hora do dia. Há possibilidade de grandes volumes de chuva em algumas regiões acreanas.