Cruzeiro do Sul, Acre 26 de novembro de 2024 04:00

Com rio mais de 1 metro acima da cota de transbordamento, Tarauacá tem mais de 2,7 mil pessoas afetadas pela cheia

O nível do Rio Tarauacá, na cidade de mesmo nome, no interior do Acre, voltou a subir na manhã desta quinta-feira (29) e chegou a 10,72 metros na medição das 9h, segundo dados da Defesa Civil do município. O rio voltou a crescer após uma leve vazante entre essa quarta-feira (28) e a quinta, quando saiu de 10,75 para 10,70 na medição das 6h de quinta.

Com o avanço das águas, já são mais de 2,7 mil pessoas afetadas, e dois abrigos já foram construídos no município, nas escolas Djalma da Cunha e Plácido de Castro. Segundo a Defesa Civil, são 2.487 pessoas desalojadas e 248 desabrigadas.

Apesar da situação da cidade estar entre as 17 que tiveram situação de emergência reconhecida, a prefeita Maria Lucinéia ressalta que o cenário ainda é menos grave que em anos anteriores. Mesmo assim, segundo a gestora, a resposta humanitária já está sendo posta em prática.

“Tarauacá sofre todos os anos com as enchentes, o que agravou desde 2021. Graças a Deus que o transtorno está sendo menor”, destacou a prefeita durante reunião com a assistência social do estado nessa quarta.

Além da ação de equipes do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, prefeitura e governo do estado, voluntários também têm se esforçado para ajudar os moradores que ainda permanecem em locais isolados pela água.

É o caso do empresário Lucas Melo, que integra um grupo de ações solidárias no municípios e costuma atuar em emergências na região. Melo conta que os voluntários têm visto uma situação bastante complicada, já que o nível do rio voltou a subir.

“Nós vamos de bairro em bairro, de manhã e à tarde. A gente fica o dia todo fazendo atendimento e levando remédio, porque estamos no pico de dengue muito grande. Nós estamos levando atendimento, levando a levando pão, levando sopa, levando baixaria [prato típico da região]”, conta.

O nível do Rio Acre subiu 16 centímetros nas últimas 12 horas em Rio Branco e chegou, às 6h desta quinta-feira (29), à marca de 16,82 metros. Já na medição das 9h, a Defesa Civil da capital registrou um aumento de seis centímetros em 3h e alcançou 16,88 metros. O manancial segue acima de 16 metros desde o dia 26 de fevereiro e já deixa mais de 1,8 mil pessoas fora de casa. O maior nível a que o rio chegou foi de 18,40 m em 2015 na capital RIo Branco.

O Acre enfrenta uma cheia histórica em 2024. Em todo o estado, pelo menos 20.182 pessoas estão fora de casa, dentre desabrigados e desalojados, segundo a última atualização nesta quinta-feira (29). Além disso, 17 das 22 cidades acreanas estão em situação de emergência por conta do transbordo de rios e igarapés. Ao menos 23 comunidades indígenas no interior do Acre também sofrem com os efeitos das enchentes.

São 1.106 pessoas desabrigadas e pelo menos 702 pessoas desalojadas somente na capital, conforme o boletim emitido pelo governo do Acre nesta quinta. Somente nos abrigos mantidos pela prefeitura de Rio Branco, no Parque de Exposições e escolas, são mais de 900 pessoas até à última atualização desta reportagem. São 312 famílias, totalizando 936 pessoas, de acordo com levantamento feito às 9h desta quarta. No total, são 1.377 pessoas em abrigos.

Dezessete municípios do Acre estão em emergência por causa da cheia de rios e igarapés. Do total, 6.627 estão desabrigadas e 13.555 desalojadas, segundo o governo do estado. Municípios como Santa Rosa do Purus, Jordão e Assis Brasil, que já registraram vazante, estão sem atualização do quantitativo atual.

O decreto reconhecendo da situação consta no Diário Oficial da União (DOU), de domingo (25). A medida também havia sido publicada em edição extra do Diário Oficial do Estado (DOE).

Situação no interior

O nível do rio Acre continua subindo em algumas cidades, porém já começa a apresentar sinais de vazante em Brasiléia nesta quinta-feira (29). Neste ano, a enchente provocou o isolamento de Brasiléia por via terrestre, já que a ponte que liga à cidade a Epitaciolândia, teve que ser interditada no último domingo (25), por conta dos riscos de as águas invadirem a ponte. Isto ocorreu nesta terça-feira, quando o manancial alcançou os 15 metros no município.

Em Brasiléia, o rio está com 15,18 metros às 6h30 desta quinta-feira (29), apresentando sinais de vazante, de acordo com a Defesa Civil do município. Na última medição às 18h, o rio Acre estava com 15,50 metros, que já era menor do que a medição das 9h30 da quarta-feira (28) que foi de 15,56 metros e se consolidou como a maior enchente da história da cidade.

Nesta quinta, o rio ainda está com mais de 3 metros acima da cota de transbordo, que é de 11,40 metros. No boletim divulgado pela governo do Acre, não há atualizações sobre o número de desabrigados e desalojados na cidade. 13 bairros foram atingidos pela enchente e 15 abrigos foram disponibilizados à população. Além disto, 14.980 pessoas foram atingidas pelas águas no município.

Em Epitaciolândia, os números de pessoas desabrigadas estão sendo contabilizadas, segundo o boletim divulgado pelo governo do Acre. Já o número de pessoas desalojadas é de 2.150 pessoas. Quatro bairros foram atingidos pela enchente e 11 abrigos foram organizados para receber os desabrigados. O nível do rio é o mesmo de Brasiléia.

Já na cidade de Xapuri, o rio apresenta 16,33 metros às 6h desta quinta, com quase três metros acima da cota de transbordo. Na última medição às 21h de quarta, o rio estava com 16,04 metros. Atualmente, 161 pessoas estão desabrigadas e 444 pessoas desalojadas em seis bairros atingidos. Na cidade há seis abrigos para atender os desabrigados.

Previsão do tempo

A previsão do tempo para esta quinta-feira (29), de acordo com os dados do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), afirma que há muitas nuvens carregadas que se desenvolvem pelo Acre por conta do fluxo de umidade que segue intenso na região.

A previsão é de pouco sol com o tempo variando de nublado a encoberto, podendo chover a qualquer hora do dia em todas as regiões acreanas. Há possibilidades de grandes acumulados de chuva em algumas regiões do estado.

Foto: Voz de Ouro/Arquivo pessoal