Cruzeiro do Sul, Acre 26 de novembro de 2024 11:39

Losartana da Medley recolhida do mercado: saiba o que deve fazer quem toma o remédio para o coração

Remédio é usado para tratar pressão alta e insuficiência cardíaca. Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) diz que não há problemas relatados em lotes atualmente vendidos por outras marcas.

A farmacêutica Sanofi Medley anunciou o recolhimento voluntário preventivo de três formulações de medicamentos com o princípio ativo losartana do mercado. A ação foi determinada após serem encontradas impurezas nos comprimidos que podem causar mutações e aumentar o risco de câncer.

A interrupção do tratamento com losartana, usada em casos de pressão alta e insuficiência cardíaca, pode trazer riscos para a saúde, conforme alertou inclusive a farmacêutica. O g1 ouviu especialistas para entender quais são esses riscos e o que os pacientes que fazem o uso da droga precisam saber agora. Abaixo, entenda os seguintes pontos:

• O que é a losartana e para que ela é usada?

• Por que a Medley está recolhendo os remédios?

• O que a interrupção do tratamento ocasiona?

• Pacientes precisam interromper o tratamento? Existem outras opções no mercado?

1) O que é a losartana e para que ela é usada?

Foto: Pixabay

A losartana é uma medicação anti-hipertensiva, ela tem como intuito baixar a pressão do paciente. Ela é usada para tratar pressão alta e insuficiência cardíaca (condição em que o músculo do coração fica enfraquecido e não consegue bombear sangue adequadamente).

“As doenças cardiovasculares estão entre as principais causa de óbitos no mundo. A gente usa essa medicação anti-hipertensiva com o intuito de controlar a pressão e fazer com que ela fique em níveis aceitáveis que reduzam riscos para os pacientes”, explica Ítalo Menezes Ferreira, cardiologista do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e do Hospital Israelita Albert Einstein.

Existem algumas classes de medicamentos anti-hipertensivos; os bloqueadores e receptores de angiotensina (hormônio que aumenta a pressão arterial) são um dos principais e mais utilizados. Dentro da classe desses bloqueadores, existem vários medicamentos, entre eles a losartana.

“Esses são remédios utilizados há décadas. São remédios importantes que além de oferecerem um adequado controle da pressão, são medicamentos extremamente seguros e que trazem proteção cardiovascular”, ressalta João Fernando Monteiro, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

2) Por que a Medley está recolhendo os remédios?

A Sanofi Medley informou que está recolhendo do mercado três formulações de medicamentos com o princípio ativo losartana porque foram encontradas impurezas nos comprimidos que podem causar mutações e aumentar o risco de câncer.

O recolhimento engloba todos os lotes dos produtos da Sanofi/Medley:

• losartana potássica + hidroclorotiazida 50 mg + 12,5 mg

• losartana potássica + hidroclorotiazida 100 mg + 25 mg

• losartana potássica 50 mg e 100 mg

• O que são as impurezas?

Segundo a Anvisa, as impurezas, chamadas de nitrosaminas, foram detectadas pela primeira vez em 2018, em um alerta global que envolveu agências reguladoras de todo o mundo.

Ainda de acordo com a Anvisa, em níveis normais, esses compostos, comumente encontrados na água, em alimentos defumados e grelhados, laticínios e vegetais, são seguros e trazem um risco baixo à saúde da população.

“Acima de níveis aceitáveis e por longo período, a exposição às nitrosaminas podem aumentar o risco da ocorrência de câncer”, diz a agência.

Essas impurezas podem causar mutação no DNA de uma célula e a transformar em uma célula cancerígena, mas isso ainda não foi confirmado por estudos clínicos.

“Essas impurezas têm um potencial mutagênico. Então existe uma possibilidade dessas impurezas promoverem algumas mutações genéticas, embora isso seja algo de uma baixa probabilidade. São dados que ainda não são muito conhecidos em humanos. Mas uma vez que você identifica essas impurezas, existe uma possibilidade que isso leve a um risco aumentado de câncer”, diz Weimar Sebba Barroso, do Comitê Científico da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)

“Não existem dados para sugerir que o produto que contém a impureza causou uma mudança na frequência ou natureza dos eventos adversos relacionados a cânceres, anomalias congênitas ou distúrbios de fertilidade”, disse a Sanofi/Medley em comunicado enviado ao g1. “Assim, não há risco imediato em relação ao uso dessas medicações contendo losartana”, acrescentou a empresa.

Em nota divulgada na quinta-feira (10), a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) também pontuou que, “até o momento, não foram relatados problemas semelhantes em outros medicamentos pertencentes à classe de bloqueadores dos receptores de angiotensina ou mesmo de losartana em monoterapia ou combinação por outras indústrias farmacêuticas”.

3) O que a interrupção do tratamento ocasiona?

A Sanofi Medley anunciou que a “interrupção abrupta do tratamento” com losartana tem riscos.

“O risco para a saúde de descontinuar abruptamente estes medicamentos sem consultar os seus médicos ou sem um tratamento alternativo é maior do que o risco potencial apresentado pela impureza em níveis baixos”, afirmou a empresa.

3) Pacientes precisam interromper o tratamento? Existem outras opções no mercado?

Os especialistas ouvidos pelo g1 ressaltam que os pacientes NÃO devem interromper o tratamento da hipertensão, mas sim procurarem orientação médica.

“O paciente deve procurar seu médico, verificar se o seu lote é um desses recolhidos. Se for o caso, trocar por outro lote ou fabricante, mas nunca interromper o tratamento”, diz o presidente da SBC.

Os especialistas acrescentam que existem diversas classes de medicamentos anti-hipertensivos que podem substituir a losartana e que somente a orientação médica é capaz de avaliar a droga que deverá ser ajustada de acordo com o perfil do paciente.

A população não deve ficar assustada nem desesperada. Pelo contrário, há todo o apoio da sociedade médica para fazer a procura do serviço de saúde e ajuste de suas medicações. Nunca pare o tratamento, sempre procure orientação médica antes”, alerta o cardiologista Ítalo Menezes Ferreira.