Cruzeiro do Sul, Acre 26 de novembro de 2024 02:34

Para especialistas, tragédia em Petrópolis é a ‘ponta do iceberg’ de mudanças climáticas

Ambientalistas afirmam que eventos climáticos adversos serão cada vez mais frequentes no Brasil e no mundo

O temporal em Petrópolis, que matou pelo menos 104 pessoas, é visto por especialistas como o resultado das mudanças climáticas mundiais ao longo das últimas décadas.

A ‘ponta do iceberg’ e um ‘pedaço do problema ambiental no mundo’ foram alguma das expressões utilizadas pelos ambientalistas para explicar a situação presenciada no município da Região Serrana do Rio de Janeiro, que entra no segundo dia de rescaldo nesta quinta-feira (17).

A tragédia na cidade de Petrópolis foi causada em função do maior volume de chuvas registrados na história do município, em 24 horas. É o que aponta o relatório do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), que iniciou o mapeamento da região desde 1972.

Em conversa com a CNN, a Gerente de Clima no World Resources Institute (WRI), organização não governamental ligada ao meio ambiente, Caroline Rocha, afirmou que os eventos climáticos adversos serão cada vez mais frequentes no Brasil e no mundo, caso a temperatura média global continue subindo.

Os dados utilizados pelo WRI, que fazem parte do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), mostram que, até o momento, o aquecimento global gerou uma alta de 1,2°C no planeta.

“Com as mudanças climáticas, essas catástrofes são inevitáveis, e vão continuar acontecendo. A situação ainda pode piorar, em todo o mundo. Se hoje presenciamos um cenário absurdo, no futuro pode ser muito pior. Lugares como Petrópolis precisam ter isso em mente. Os eventos climáticos que costumeiramente acontecem na cidade, não serão mais exceção e sim a regra. E o governo desses locais precisa melhorar a infraestrutura de forma urgente. É apenas um pedaço do problema ambiental no mundo”, ressaltou Caroline Rocha.

Um levantamento feito pela CNN mostra que mais de 150 pessoas morreram nos últimos cinco meses de chuva no Brasil. Foram pelo menos quatro estados atingidos pelas catástrofes ambientais: Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais e São Paulo.

E a pesquisadora Caroline Rocha diz que os eventos adversos não atingem somente o país, e sim todos os continentes. “Somente nos últimos meses, nós percebemos várias situações extremas no Brasil. Temos o caso de Petrópolis, as mortes na Bahia e as chuvas incomuns em Minas Gerais”.

“E isso não acontece só dentro do país. Os Estados Unidos estão tendo uma questão muito grave com incêndios, principalmente na California. A Austrália tem uma crise hídrica muito importante. A África também tem dificuldades com acesso à água tratável. Já na Europa, os países estão percebendo efeitos drásticos de inundações. Todos os continentes vão sofrer de alguma forma”, aponta a Gerente de Clima do WRI.

Para o professor da Coppe e do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (IVIG), Marcos Freitas, as mudanças climáticas também devem gerar uma escassez hídrica em determinadas áreas. Ele cita a situação do Sul do Brasil, que registra a pior seca dos últimos 70 anos.

“Os modelos climáticos indicam um aumento na intensidade e a frequência dos eventos adversos. Não teremos somente mais chuvas intensas e mais fortes, como também as secas, que devem registrar uma alta de casos”, disse o professor da Coppe.

Em nota, o Greenpeace Brasil destaca que o temporal em Petrópolis “escancara o que a ciência já alerta há tempos: o agravamento da crise climática torna os eventos extremos cada vez mais intensos”. O comunicado ainda traz que a tragédia poderia ser evitada.

“O risco decorrente da crise do clima é presente e historicamente negligenciado pelos órgãos governamentais, que precisam urgentemente criar medidas de prevenção, adaptação e desenvolver ações estruturais de enfrentamento a este cenário. Por isso, precisamos pressionar para que os estados brasileiros decretem emergência climática, para trazer soluções em constante diálogo com a sociedade civil”, afirma Rodrigo Jesus, porta-voz do Greenpeace Brasil