Honduras irá promover a abertura de “relações oficiais” com a China, anunciou a presidente Xiomara Castro, sem especificar se isso implicará uma ruptura de seus laços tradicionais com Taiwan. Contudo, sob o princípio de “uma só China” de Pequim, nenhum país pode manter relações diplomáticas oficiais simultâneas com a China e Taiwan. O governo da China considera Taiwan parte de seu território e promete retomá-la um dia. “Buscaremos estabelecer as relações diplomáticas mais cordiais e amistosas com a República Popular da China e com as comunidades de países asiáticos e africanos que desejem ter relações conosco”, afirma o plano de governo de Castro. Apesar de não ter dado mais detalhes, o chanceler hondurenho, Eduardo Reina, explicou nesta quarta-feira, 15, que as necessidades econômicas e a recusa de Taiwan a ampliar a assistência levaram Honduras a buscar laços com a China. “Infelizmente, as necessidades são enormes e não vimos essa resposta” de Taiwan, disse Reina em um fórum do Canal 5 de TV. Em sua conta no Twitter, a presidente afirmou que instruiu o chanceler Reina para trabalhar na abertura de relações oficiais com a República Popular da China. Em 2 de fevereiro, ele já havia anunciado tratativas com a China para construir uma represa hidrelétrica, mas negou versões de que seu país iria estabelecer relações com Pequim. Com um crédito de cerca de 300 milhões de dólares, a China financiou a represa Patuca III, inaugurada em janeiro de 2021 pelo então presidente Juan Orlando Hernández.
A promoção de relações ‘oficiais’ foi celebrada pelos chineses. “Estamos dispostos a desenvolver relações amistosas e de cooperação com Honduras e outros países do mundo, com base no princípio de uma só China”, afirmou o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin. O mesmo não aconteceu em Taiwan, que alertou Honduras a tomar cuidado para não cair nas armadilhas da China e tomar a decisão errada de prejudicar a amizade de longa data entre Taiwan e Honduras. Na manhã desta quarta-feira, 15, o embaixador de Honduras em Taipé, Harold Burgos, compareceu ao ministério taiwanês das Relações Exteriores. “O verdadeiro objetivo das promessas falsas e atraentes do regime ditatorial chinês é retirar nossos aliados diplomáticos e suprimir o espaço internacional de Taiwan”, afirmou o ministério taiwanês em um comunicado divulgado após a reunião.
A América Latina tem sido um palco crucial das disputas entre Pequim e Taipé desde que se separaram em 1949, após a vitória das forças comunistas na guerra civil chinesa. Alinhados com Washington, todos os países centro-americanos se mantiveram durante décadas ligados a Taiwan. Atualmente, somente Honduras, Guatemala e Belize mantêm laços com a ilha. Costa Rica (em 2007), Panamá (2017), El Salvador (2018) e Nicarágua (2021) romperam com Taipé e se vincularam a Pequim, que há muitos anos trabalha para que os países diplomaticamente aliados à ilha mudem de lado. Somente 14 países do mundo reconhecem Taiwan, incluindo Paraguai, Haiti e outras sete pequenas nações do Caribe e do Pacífico. Reina se reuniu em 1º de janeiro com o vice-chanceler chinês, Xie Feng, em Brasília, à margem da cerimônia de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.