Vendedores se mostraram indignados com a decisão; grupo extremista alega que bonecos vão “contra a lei islâmica”
Os talibãs ordenaram a decapitação da cabeça de manequins das lojas de roupas de Herat, terceira maior cidade do Afeganistão. De acordo com o grupo extremista, os bonecos se opõem à interpretação deles da Sharia, a lei islâmica. A medida vem somada a uma série de outras imposições anunciadas pelo Talibã que limitam liberdades públicas, principalmente para as mulheres.
“Pedimos aos comerciantes que cortem a cabeça dos manequins, porque é contra a lei [islâmica] da ‘Sharia’”, disse o chefe do serviço de Promoção da Virtude e Prevenção do Vício em Herat, Aziz Rahman, à agência de notícias AFP .
Alguns vendedores tentaram contornar a imposição e usaram sacolas plásticas para cobrir a cabeça dos manequins, mas o ato não agradou o grupo. “Se se limitarem a cobrir suas cabeças, ou esconderem o manequim, o anjo de Alá não entrará na loja — ou em sua casa — para abençoá-los”, afirmou Rahman.
Nas redes sociais, circula um vídeo em que homens cortam as cabeças de manequins femininos usando uma serra. Diversos vendedores da cidade se mostraram indignados com a decisão.
“Como podem ver, cortamos as cabeças dos manequins na loja. Quando não há modelo, como você vende seus produtos?”, questionou Basheer Ahmed. À AFP , o comerciante reclamou que gastou 5 mil afeganis (cerca de R$ 270) em cada manequim.
Até o momento, nenhuma ordem nacional sobre manequins foi imposta pelo grupo. De acordo com a interpretação estrita deles da Sharia, são proibidas representações humanas, como os bonecos. Devido à crença, o Talibã destruiu várias estátuas históricas de Buda da primeira vez que tomaram o governo do país, entre 1996 e 2001.
Tomada de poder
O grupo armado fundamentalista voltou a comandar o Afeganistão em meados de agosto, após quase 20 anos de intervenção dos Estados Unidos . Imagens de pessoas desesperadas tentando fugir do país agarradas aos aviões norte-americanos chocaram o mundo.
Esse temor remonta à história do Talibã, que quando dominou o país na década de 1990, aplicou sua interpretação da Sharia, a lei islâmica, e estabeleceu um sistema judicial violento em que mulheres não podiam andar desacompanhadas ou frequentar escolas, acusados de adultério poderiam ser condenados à morte, suspeitos de roubos eram punidos com mutilações, além de televisão, música e cinema serem coisas proibidas, entre outras opressões.
Dessa vez, o Talibã assumiu um discurso moderado para a comunidade internacional, mas o grupo já impôs diversas medidas restritivas, especialmente às mulheres.