Cruzeiro do Sul, Acre 24 de novembro de 2024 19:24

Dois dos três torcedores argentinos detidos por injúria racial e racismo durante jogo do Corinthians em SP são soltos após pagar fiança

Dois dos três torcedores do Boca Juniors que foram detidos na noite da terça-feira (28) por gestos racistas (veja acima) foram libertados na tarde desta quarta (29) após pagamento de fiança. Sebastian Palazzo foi flagrado imitando macacos e Federico José fez uma saudação nazista.

O outro torcedor, José Raza, que também foi filmado imitando macacos na partida, ainda não havia pago a fiança até a última atualização desta reportagem e foi encaminhado ao Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, na Zona Oeste.

Os três torcedores foram presos por injúria racial e racismo e encaminhados para o Departamento de Operações Policiais Estratégicas, na Zona Oeste da capital.

Em audiência de custódia, a Justiça entendeu que os três torcedores têm direito a responder ao processo em liberdade, mediante pagamento de fiança de R$ 20 mil.

Os gestos dos argentinos foram direcionados aos corintianos. É possível ouvir os torcedores do Corinthians reagindo e chamando a torcida do Boca de “racista” e pedindo para chamar “a polícia”.

No depoimento, segundo o delegado Cesar Saad, os torcedores declararam estar arrependidos. “Assim como no caso do primeiro jogo, eles disseram que esse tipo de conduta na Argentina não tem esse peso todo, essa gravidade toda. Mas a gente conversou, expliquei que aqui é crime gravíssimo, acho que todos nós nos sentimos ofendidos em razão de imitarem macacos. E eles entenderam, pediram desculpas, um deles até se comprometeu a fazer retratação na rede social dele e é isso. Aqui se mostraram totalmente arrependidos.”

A polícia também deve informar a Confederação Sul-americana de Futebol (Conmebol) sobre o caso, para que outras medidas sejam adotadas.

Torcedor do Boca Júnior é preso por suspeita de atos racistas — Foto: Henrique Toth/ge

“Mesmo que voltem [para a Argentina], o processo vai correr aqui normalmente, ainda que sejam julgados e condenados à revelia. Isso tudo tem, sim, um agravamento, uma repercussão uma vez que regressem ao Brasil e, por se tratar de futebol, a gente faz comunicação para a Conmebol para que ajam junto com o clube, no caso o Boca, para que fiquem proibidos de ingressar em estádio, de forma que haja uma pena, ainda que acessória, no país deles.”

No caso de abril, também na Arena do Corinthians e também contra o Boca pela Libertadores, o argentino Leonardo Ponzio Boca foi detido por injúria racial e liberado depois de pagar R$ 3.000 de fiança.

Torcedor argentino detido por ato racista no estádio do Corinthians em São Paulo — Foto: Henrique Toth/ge

Depois deste caso, a Conmebol anunciou regras mais duras contra clubes cujos torcedores cometerem atos de racismo. Marcelo Carvalho, diretor-executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, avalia que o combate ao racismo precisa ir além.

“Os casos de racismo no futebol têm se repetido muito pela falta de punição, mas também porque as punições que são realizadas hoje são financeiras, multas. Isso o clube paga ou o clube deixa de receber e este valor vai para a caixa da Conmebol. Precisamos pensar em punições diferentes, com perda de pontos, punir com estádio parcialmente fechado ou fechado ou até mesmo com exclusão do campeonato. Estas possibilidades já estão no novo Código de Ética da Conmebol, já é possível punir os clubes, conforme a Conmebol mesmo colocou no seu código disciplinar.”, afirma Carvalho.

E completa: “Precisamos mudar, mas precisamos também pensar no combate ao racismo de outras maneiras que não seja única e exclusivamente a punição. Precisamos entender por que alguns torcedores veem o racismo como algo que pode ser praticado”.

Confusão antes do jogo

Ônibus do Boca Juniors foi apedrejado e um membro da delegação ficou ferido sem gravidade — Foto: Marcos Ribolli/ge