A cidade de Tarauacá, interior do Acre, foi surpreendida por mais um terremoto na noite dessa terça-feira (7). O abalo sísmico com magnitude 6.5 na escala Richter foi sentido por alguns moradores, mas não há registro de feridos.
Ao g1, o professor e doutor em geografia da Universidade Federal do Acre (Ufac), Waldemir Lima dos Santos, explicou que o município é o que mais registra terremotos e com grandes magnitudes no estado acreano.
O professor é autor do projeto “Eventos Tectônicos no Acre: Levantamento e caracterização inicial da ocorrência de terremotos”, desenvolvido no laboratório de geomorfologia e sedimentologia da Ufac. O material estuda abalos sísmicos no estado acreana entre 1950 e 2016. Segundo o estudo, entre os anos 2000 a 2016 foram registrados 38 terremotos no Acre com magnitude acima de 5 graus. A maioria na cidade de Tarauacá.
A explicação para esses eventos, conforme o especialista, seria uma possível falha geológica porque o município fica dentro de uma grande depressão. Ele complementa o seguinte:
“A cidade está dentro de uma grande depressão, então, temos lá o Platô de Cruzeiro do Sul, que é parte alta, e depois descemos Tarauacá, Feijó, até Sena Madureira [cidades do interior], onde tem uma grande depressão no estado, que chamamos de depressão Juruá/Iaco. Depois temos uma planície que pega Rio Branco até Acrelândia. É possível que nessa região, como os terremotos ocorreram em linha, se você olhar no mapa vai estar alinhados, pressupõe que haja uma falha geológica naquele município, que corta, inclusive, o Acre ao meio”, frisou.
Um dos maiores terremotos já registrados
O especialista destacou que o terremoto registrado em Tarauacá na noite dessa terça foi um dos maiores, mas não o maior já registrado. Em 2015, a cidade teve uma ocorrência com magnitude de 6.7. Esse foi o quarto registrado apenas naquele ano no município.
“Queria fazer um registro, um histórico dos sismos que acontecem no Acre e não tínhamos dados. Montei um projeto e fizemos a caracterização. Levantamos quantos tem, qual a localidade mais atingida dentro do Acre por sismos e depois a gente foi fazendo a caracterização com base na profundidade e a magnitude. Descobrimos que Tarauacá acaba sendo o município que mais tem ocorrências de terremoto”, relembrou.
Onda dissipada
Apesar de o último terremoto ter magnitude acima de 5 na escala Richter, a profundidade do evento foi muito grande e a onda foi dissipada sem causar danos à superfície. O epicentro do terremoto foi a cerca de 111 km de Tarauacá, registrado às 21h55, horário de Brasília, pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos. A profundidade do abalo foi de 621 km.
“Apesar de serem terremotos superiores a 5, 6 e 7 graus, as profundidades são maiores do que 500 quilômetros. Então, isso, de certa forma, acaba dissipando a onda quando ocorre a movimentação da placa, ocorre a dissipação e essa onda, por ser muita profunda, já chega de uma forma amenizada na superfície não causando grandes danos para as pessoas”, argumentou.
Moradores sentiram: ‘tremeu tudo’
A professora aposentada Maria Monteiro conta que sentiu o tremor de terra. Ela estava na sala assistindo a um jogo de futebol com o filho quando sentiu uma sensação estranha e foi até a cozinha. No cômodo, ela falou que viu os copos que estavam em cima da pia se movimentarem.
“Tinha lavado uma louça que estava em cima da pia e começou a tremer os copos. Era cedo ainda da noite. Estava tudo tremendo, balançando. Foi tudo muito rápido, foi forte, mas não foi como da outra vez, que deu no Peru”, recordou.
Outra moradora que também afirma ter sentido o terremoto foi Jeane de Souza. “Tremeu tudo e foi bem forte porque as coisas que tenho no rack começaram a cair. Foi tipo quando o som está muito alto na casa e vai tremendo”, garantiu.
Evento andino
O professor e doutor Waldemir dos Santos acrescentou que o terremoto de Tarauacá ocorreu devido à movimentação das placas tectônicas Sulamericana e de Nazcar, na região da Cordilheira dos Andes.
“Ocorre um movimento, que chamamos de movimento de compreensão, a placa de Nazcar, mais pesada, acaba mergulhando por essa outra, que é a Sulamericana, que tem um material mais leve, e acaba se suspendendo por conta desse rebaixando da placa de Nazcar. Na hora que ocorre o movimento de acomodação de placas, o planeta está em movimento, é o gatilho para ocorrer os terremotos na superfície”, pontuou.
Conforme o estudo, entre 2000 a 2010 foram registrados 12 terremotos acima de 5 graus na escala Richter. Entre 2013 a 2016 foram 21. Em 2015, foram 17 ocorrências, sendo que 13 foram sentidos na cidade de Tarauacá. Em 2016, foram 21. Nesse mesmo ano, inclusive, houve um terremoto de 7. 6 na escala Richter na cidade, segundo o especialista.
“É em função dessas placas tectônicas que ocorrem os terremotos. O que é mais interessante é que as pessoas, às vezes, pensam que Cruzeiro do Sul tem mais terremotos por estar muito próximo dos Andes, mas, na verdade não é, é Tarauacá. Isso a gente fez o estudo e ficou bem caracterizado, inclusive com dados da USGS [serviço geológico dos EUA]”, concluiu.