A Federação Internacional do Automobilismo (FIA) apertou o cerco no uso de joias por parte dos pilotos na Fórmula 1 e reforçou o recado no GP de Miami, no último fim de semana. Após o protesto silencioso de Lewis Hamilton, que compareceu à coletiva de imprensa com três relógios, oito anéis e vários colares – mas removeu seus brincos antes da prova -, a entidade deu ao heptacampeão até o GP de Mônaco para retirar seu piercing. Ele, porém, garante que não pretende ceder.
– Não vou cumprir. Tenho uma isenção e vou ter outras pelo resto do ano. Alianças de casamento são permitidas. Vou usar quatro relógios da próxima vez – disse o piloto da Mercedes.
A prova nas ruas do principado será realizada em 29 de maio. Lá, Hamilton tem três vitórias, em 2008, 2016 e 2019.
A medida que coíbe o uso de joias e também regulariza as roupas íntimas utilizadas pelos pilotos (que devem ser antichamas) foi instituída pelo novo diretor de provas da F1, Niels Wittich, desde o GP da Austrália.
O Artigo 5 das notas da prova australiana informava que “o uso de joias na forma de piercings ou correntes de metal no pescoço é proibido durante a competição e, portanto, deve ser verificado antes da largada”.
Segundo Wittich, joias feitas de metal podem aumentar a transmissão de calor, o que no caso de um incêndio, aumenta o risco de queimaduras. De acordo com o ex-diretor de provas da DTM, os acessórios ainda prejudicam procedimentos clínicos ou exames em situações de emergência.
Lewis Hamilton na coletiva de imprensa do GP de Miami da F1 2022 — Foto: Jared C. Tilton/Getty Images
Outro ponto ressaltado pelo alemão é que a remoção de equipamentos dos pilotos em um resgate pode provocar ferimentos caso eles estejam com adereços como brincos ou piercings, que ainda podem ser engolidos.
A FIA tem aumentado a rigidez em normas e equipamentos de segurança (como o halo) desde o acidente de Romain Grosjean no GP do Bahrein em novembro de 2020. O franco-suíço bateu sua Haas no guard-rail e escapou de um incêndio de grandes proporções. Ele sofreu queimaduras de segundo grau. Porém, o atual piloto da Fórmula Indy expressou apoio a Hamilton com base em sua experiência:
– Pra ser justo, eu usei minha aliança de casamento e meu relógio durante toda a minha carreira. A aliança não atrapalhou, onde ela estava, fui protegido (do fogo). Eu estava protegido por minha esposa e fui salvo pelos meus filhos. Entendo a questão, mas não gostaria de pilotar sem minha aliança.
Acidente Roman Grosjean GP do Barein de F1 — Foto: REUTERS/Bryn Lennon
Hamilton também recebeu apoio de Sebastian Vettel, que vê a situação como um ataque direcionado ao britânico, e ainda vestiu uma cueca sobre o macacão da Aston Martin antes do primeiro treino livre como repúdio à cobrança no uso de roupas íntimas específicas.
– Essa coisa toda de segurança, cara… Quando me falarem sobre joias, me disseram que segurança é tudo. E eu perguntei: “o que aconteceu nos últimos 16 anos? Eu uso joias desde essa época e nunca foi um problema” – concluiu Hamilton.
Pierre Gasly, da AlphaTauri, revelou que corre utilizando um acessório por motivos religiosos, do qual não deseja abrir mão, e manifestou a intenção de encontrar um consenso com a FIA.
Sebastian Vettel criticou regra da F1 que proíbe pilotos de usarem acessórios, joias e piercing — Foto: Reprodução/Twitter
Totto Wolff, o chefe da Mercedes, pediu para o Hamilton resolver as questões das joias diretamente com o presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem. Apesar disso, Wolff não deixou de declarar seu apoio ao piloto.
– Acho que é necessário um diálogo entre Lewis e Mohammed. Está claro que as regras estão aqui para proteger os pilotos. Por outro lado, precisamos manter a possibilidade da diversidade e as nossas maneiras de nos expressar, e sabemos que isso é importante para Lewis – disse Toto para o jornal britânico Express.
A próxima etapa da F1 será o GP da Espanha, em 22 de maio. Lá, quem assume a direção de provas é Eduardo Freitas, ex-diretor do Mundial de Endurance (WEC) da FIA.
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