Há mais de dois anos, a enfermeira Luci Helen Vasconcelos da Silva, de 38 anos, recebeu o diagnóstico de uma doença degenerativa rara e teve que readaptar a vida e os plantões nas unidades de saúde de Cruzeiro do Sul, interior do Acre, onde mora e trabalha. Helen, tem osteonecrose femoral, doença responsável pela morte do tecido ósseo.
A doença causa uma necrose na cabeça do fêmur, o sangue para de circular na região e leva à morte do osso. O diagnóstico foi descoberto em outubro de 2020 durante um dos plantões. Ela recorda que sentia muitas dores, mas achava que era do cansaço diário e não dava tanta importância.
Dia 26 de outubro daquele ano, Helen sentiu uma forte dor na nádega direita, foi levada para o pronto-socorro de Cruzeiro do Sul e chegou pedindo socorro para uma colega da unidade. Foi feita uma tomografia e o exame mostrou a doença.
“É uma doença incapacitante porque a tendência é piorar e perder o movimento. No banho, não consigo mais me enxurgar direito, colocar minha roupa, me sentar, estou andando com ajuda de muletas. Se não fizer a cirurgia, vou chegar ao ponto de ficar em cadeira de rodas e contando com a ajuda de familiares para andar”, explicou.
Helen conta que achava que as dores seriam resultado de algum problema menos grave. A profissional faz fisioterapia, acompanhamento com um ortopedista e toma remédios para aliviar as dores.
“Fiz uma infiltração para aliviar a dor. Ultimamente as dores têm aumentado muito, estou deitada agora e para me virar dói, para me mexer, para levantar. Ainda ando, mas com dor. A dor é constante, 24 horas e gente aprende a viver com ela”, lamentou.
Cirurgia de emergência
Um dos procedimentos que podem melhorar a qualidade de vida de Helen é uma cirurgia para implantação de uma prótese de quadril. O serviço é oferecido pelo Serviço Único de Saúde (SUS), mas, segundo a enfermeira, a fila de espera é muito extensa e ela luta contra o tempo para não ficar sem andar.
Por isso, amigos, conhecidos e familiares fazem campanha, rifas, vaquinhas e até feijoada beneficente para arrecadar recursos e Helen fazer o procedimento em um hospital particular de Brasília, no Distrito Federal. A cirurgia, no entanto, custa R$ 62 mil, fora os custos com internação, viagem, hospedagem e outros.
“O médico disse que vou voltar à vida. Essa cirurgia é feita pelo SUS, porém, a fila é gigantesca e tem gente com 11 anos de espera. Vi uma reportagem de uma senhora que sofreu um acidente e espera há 8 anos pela prótese dela. Imagina uma senhora de idade esperando, que é prioridade, e eu que não sou?”, criticou.
Há dez meses Helen foi afastada do trabalho. Além de não conseguir mais exercer a profissão que ama, ela conta com a ajuda da família para os afazeres domésticos, tomar banho, se vestir e outras atividades que antes eram simples de fazer.
“Preciso voltar a viver, a trabalhar, quero exercer minha profissão. Sou enfermeira por amor, quero trabalhar. Minha filha tem 13 anos e é quem também me ajuda”, finalizou.
Doença
O ortopedista e traumatologista Robson de Souza explicou que a doença é progressiva e afeta mais os homens entre a terceira e quarta fase da vida. Há tratamentos para diminuir a agressividade da doença e dar uma qualidade de vida melhor para o paciente.
Ele destacou que em Rio Branco é feita a cirurgia de implantação da prótese no quadril. Sobre as causas, Souza disse que não há um fator específico, porém, em alguns pacientes acometidos foi percebido o uso de medicamentos como corticoides, pessoas que sofreram algum tipo de trauma e cirurgias que interferem na vascularização, por exemplo.
“Costumamos associar a um distúrbio da vascularização da cabeça do fêmur e, geralmente, são adultos jovens, pode ser incapacitante e a etimologia pode ser várias coisas. Além do corticoide, que fazemos associação, o alcoolismo também está está associado”, frisou.
O ortopedista destacou que a doença não ataca a função neurológica do paciente. A pessoa deixa de andar devido às fortes dores no quadril.
“A dor é incapacitante. Um dos tratamento é a cirurgia, mas quando é identificada precocemente você consegue lançar mão de outros tratamento. Importante é o diagnóstico precoce para tentar mais tratamentos e como é uma doença progressiva fazer uma boa progressão”, concluiu.