A manicure Maria Gilda Nery, de 54 anos, mantém no telefone a mensagem que o filho Gabriel Martins Nery de Araújo, de 19, enviou para ela no Dia das Mães, em maio de 2019, para homenagear-lá Em outubro do mesmo ano, Gabriel saiu para caminhar em Cruzeiro do Sul, interior do Acre, e não deu mais notícias para a família.
É agarrada a essas lembranças, vídeos, fotos e arquivos que Maria Gilda tenta viver com a ausência do filho. Para ela, não apagar as conversas que teve com Gabriel é uma forma de manter viva a esperança de que um dia ele volte para casa.
“Guardo [as mensagens] na esperança de que ele volte. Fico nervosa [em falar] porque é uma esperança. Entende?”, diz a manicure.
No próximo domingo (8), quando será celebrado o Dia das Mães, Maria Gilda vai receber felicitações e mensagens dos outros dois filhos, um casal, de 30 e 32 anos, que mora nos Estados Unidos, e a saudade do filho caçula, que segue desaparecido, vai deixar o coração apertado.
“Sei que ele vai aparecer, rezo todos os dias, peço todos os dias, pergunto o que está passando, o que aconteceu. Sei que Deus vai mostrar o que aconteceu. Meus filhos vão mandar mensagem [no domingo]”, afirma, emocionada.
Mensagens
Na época do sumiço de Gabriel, Maria Gilda conta que estava na cidade de Manaus (AM) visitando a filha que tinha chegado do exterior. Foi na capital amazonense que Maria passou o Dia das Mães em maio de 2019 e, por isso, recebeu apenas mensagens de felicitações do filho pela data.
“Feliz Dia das Mães”, desejou Gabriel por mensagem enviada em um aplicativo de conversa para a manicure, seguida de um coração. “Obrigada, meu filho”, respondeu Maria Gilda.
Além dessas mensagens, a manicure diz guardar também registros de outras conversas entre ela e o filho enquanto viajava. Entre esses registros há a conversa que a mãe teve com Gabriel antes de ele sumir.
Na conversa ela diz que logo estará de volta na cidade acreana, pergunta o que tinha acontecido que levou Gabriel a vomitar e o rapaz afirma que teve um dia ruim e não sabia o que havia causado o mal estar.
“Passei o dia em casa. Vou caminhar um pouco com meu amigo”, respondeu o rapaz. “Cuidado, filho”, alertou Maria.
“Tá bom, mãe. Boa noite, te amo”. Essa foi a última vez que Gabriel respondeu à mãe.
Quando voltou para Cruzeiro do Sul, logo que soube do sumiço do rapaz, a manicure iniciou uma jornada em busca de notícias, relatos, denúncias e de pessoas que tiveram contato ou viram o filho na cidade acreana ou em outro estado.
Ela acha que o filho está vivo, que saiu do estado acreano e não voltou devido à repercussão do caso.
“Eu era muito apegada ao meu filho e estou vivendo com a esperança de que ele ainda vai dar notícias. Acho que está vivo, era um menino muito certo e acho que não quer dar o braço a torcer. Acho que está em algum lugar, mas não quer aparecer”, acrescentou.
Investigação por conta própria
Gabriel Nery morava em um apartamento no bairro Morro da Glória, em Cruzeiro do Sul. A família registrou um boletim de ocorrência em uma delegacia da cidade após o desaparecimento e a Polícia Civil começou a investigar.
Desesperados, familiares chegaram a oferecer uma recompensa de R$ 5 mil por qualquer informação sobre o paradeiro do rapaz. Alguns moradores falaram para a família que tinham visto Gabriel caminhando pelas ruas da cidade.
Por causa da falta de informações da polícia, a família contratou uma pessoa para descobrir o paradeiro de Gabriel. Essa pessoa acabou descobrindo conversas entre o rapaz e amigos dizendo que queria ir embora para São Paulo.
“Acho que ele está em São Paulo. Meu coração fala isso. Acompanhamos os noticiários desde a época e um dia desses acharam um rapaz perdido nos Estados Unidos que teve um lapso de memória e não sabia onde estava. Viram a filmagem e conseguiram descobrir os familiares. Acho que é a mesma coisa com o Gabriel, mas falta interesse da polícia”, contou Maria Gilda.
Outra descoberta do investigador foram imagens de câmeras de segurança que mostram Gabriel caminhando por uma rua bastante movimentada vestindo um moletom de cor branca, calça jeans e uma bolsa preta nas costas.
“Acho que ele pegou carona com algum caminhoneiro, porque na época das filmagens ele foi para uma região onde tem alguns caminhões. Foram as únicas imagens que pegamos dele, recebeu dinheiro, foi fazer compras, cortou o cabelo e saiu todo arrumado. Só não levou os documentos dele”, disse Maria Gilda.
A família também teve acesso a uma conta em um aplicativo de relacionamento que tinha um perfil chamado André e usava a foto de Gabriel. Um dos parentes chegou a conversar com essa pessoa fingindo estar interessado no rapaz. Na conversa, o suposto André disse ter 32 anos.
“Na época, foi muito falado e não sabemos se era realmente ele ou outra pessoa que se aproveitou da oportunidade. Oferecemos uma recompensa na época e muita gente se aproveitou”, lamentou.