Poucos dias após o fim do carnaval do Rio de Janeiro, uma foto viralizou nas redes sociais. O registro, feito pelo fotógrafo Felipe Silva, mostra o público de um dos camarotes da Sapucaí ignorando o desfile da Portela na Avenida, no Desfile das Campeãs, no último sábado (30). Quinta colocada este ano, a Azul e Branca de Madureira foi a segunda a sair na noite festiva.
A imagem, divulgada pela coluna Setor 1, da Band, mostra parte do quarto carro alegórico da escola, maior campeã do carnaval carioca. A alegoria, “Travessia”, representa a jornada pelo Atlântico dos escravizados, a bordos dos navios negreiros.
A cabeça de um homem preso pelo pescoço fica em primeiro plano. Ao fundo, cerca de 50 pessoas no camarote, quase todos brancos, se divertem sem nem olhar o desfile.
“Eu queria fazer a foto para comparar a elite com o carro do navio negreiro. Depois, quando eu cheguei em casa, eu vi que não tinha ninguém olhando. São várias mensagens na mesma imagem. Não é só a questão do camarote, tem também a falta de respeito com a nossa cultura”, comentou Felipe Silva.
O autor da imagem revelou ao g1 que a motivação para fazer a fotografia não foi exatamente a indiferença do público do espaço VIP. Segundo Felipe, a ideia de fazer a foto veio porque o som alto do camarote estava atrapalhando a passagem da escola – uma crítica recorrente durante o carnaval deste ano (veja o que diz a Liesa sobre essa queixa).
“Esse foi o meu primeiro carnaval no Rio, e eu estava muito deslumbrado com tudo. Só que na hora que a Portela entrou, o som do camarote estava conflitante com o samba da escola. Eu parei para ver o que estava acontecendo e vi que o pessoal do camarote estava curtindo nem ligando para o desfile” , disse Felipe.
Especializado no carnaval paulista, Felipe Silva estava pela primeira vez na Marquês de Sapucaí. Na opinião do fotógrafo, o desfile de qualquer escola deve ser tratado como atração principal e não deveria concorrer com outras músicas.
“Eu não acreditei. Achei falta de respeito. Eu acho que, no mínimo, no momento que a escola for entrar na Avenida, deveriam parar com o som nos camarotes. Isso é uma atitude de respeito ao trabalho de quem faz o carnaval, respeito às escolas de samba. Eu aprendi que devemos ter respeito pelo pavilhão. Ali, o pessoal não respeitou a arte do carnaval carioca.”
Mesmo com o problema dos camarotes, Felipe segue fã do carnaval do Rio de Janeiro. Para ele, a energia das pessoas cantando e se divertindo, principalmente na arquibancada, é algo “surreal”.
“O carnaval do Rio é surreal. Não tem comparação. As pessoas cantando todos os sambas e os hinos das escolas. Eu estava na arquibancada, no Setor 3, e a energia era incrível. Na hora que a Beija-flor entrou, no camarote estava tocando sertanejo e na arquibancada estava todo mundo animado cantando o samba da escola. É outra energia”, completou Felipe.
Jurados também reclamam de som alto
O som alto dos camarotes do carnaval também foi observado pelos jurados do desfile. Uma das críticas apareceu na observação das justificativas das notas.
“Muito vazamento de som dos camarotes para dentro da Avenida (em frente aos módulos 1 e 2) durante a passagem das escolas. Uma falta de respeito para com o espetáculo e podendo, inclusive, atrapalhar os jurados da parte musical”, escreveu o jurado de bateria Philipe Galdino em suas observações finais.
á a percussionista Mila Schiavo, que também julga bateria, chamou atenção para o som ligado na passagem da Mangueira e da Portela.
Bicões na pista
Também chamou atenção a quantidade de pessoas que não eram ligadas ao desfile paradas na Sapucaí, durante o intervalo entre um desfile e outro, o que atrapalha a limpeza da pista para a próxima escola passar.
Em um registro feito pelo site Rádio Arquibancada, especializado na cobertura do carnaval, é possível ver uma grande quantidade de pessoas com camisas de camarote, na altura do Setor 6, e uma escola já ao fundo, entrando na Sapucaí.
“Essa é a Sapucaí no intervalo dos desfiles. Desrespeitoso? Demais! A pista é sagrada e é para os sambistas que ralaram e ensaiaram o ano inteiro para desfilar”, comentou o blogueiro de carnaval Dam Menezes sobre um dos registros.
No mesmo post, o diretor de ala Naldo Houston desabafou: “Essa quantidade de pessoas circulado livremente pela pista na hora dos desfiles das escolas atrapalha o andamento e o trabalho dos profissionais da escola … eu mesmo tive problemas para transitar e organizar as baianas da São Clemente”.
‘Multas dolorosas’
Gabriel David, diretor de marketing da Liesa, comentou algumas das polêmicas envolvendo a festa desse ano nos stories do perfil do seu Instagram.
“Algumas polêmicas sérias, como a questão dos camarotes e do som, isso é muito sério. A gente avisou durante o momento em que estava acontecendo, mas demorou. O que eu prometo para vocês são multas mais eficazes e dolorosas, não só para a questão dos camarotes, mas como outras que são muito sérias também”, disse ele, sobre deliberações para 2023.