Dessa forma, o Acre proporcionalmente, é o estado com maior número de feminicídios do país
Os moradores do município de Acrelândia pareciam não acreditar, na manhã desta segunda-feira (02), a gerente do banco Sicredi, Tatiana Neris Lima, de 32 anos, foi morta com um tiro no peito pelo ex-namorado, um jovem de 26 anos, chamado Kennedy souza, vigilante desse mesmo banco, que não aceitou o fim relacionamento.
Nem deu tempo de raciocinar sobre o crime e, em seguida, chegou a notícia de mais uma mulher morta pelo ex-companheiro. O nome da vítima era Maria Samara Silva do Nascimento, de apenas 19 anos, ela levou duas facadas. O crime ocorreu durante a madrugada, no município de Feijó, o homicida invadiu a casa onde Samara morava para tirar-lhe a vida.
Há uma semana, também em Feijó, um indígena identificado como Ubiracy Kulina, matou a esposa Anita Kulina e feriu a filha após uma briga.
Mediante a isso, é observado que os homicídios contra a mulher seguem em uma linha crescente no Acre. Em 2019 foram 11 mortes, já em 2020 o número foi para 12 e no ano passado o dado fechou em 14 óbitos. Dessa forma, um crescimento de 30%.
Todos essas mortes chamadas de feminicídio deixam o Acre na liderança do ranking de homicídios contra as mulheres. Vale salientar, que a média é de 2,5% para cada 100 mil habitantes, proporcionalmente a maior do Brasil.
O movimento feminista aponta várias causas para tanta violência, primeiro não há uma politica de estado para a sociedade combater o machismo, que cria a posse do homem sobre a mulher, falta de mais segurança para as mulheres denunciar e mesmo quando denuncia as medidas protetivas são falhas, e levam muitas delas a perder a vida.
“Além de uma lei, é necessário também um processo educativo e a lei Maria da Penha já aporta esses processos educativos. E todo um sistema que precisa de política pública e de um sistema de justiça efetivo, além de todo um acompanhamento com a sociedade”, explicou a representante do Movimento Feminista, Lidiane Cabral.
Uma pesquisa do Ministério Público do Acre (MPAC) aponta, que 59% dos autores dos feminicídio eram companheiros ou ex das vítimas, os crimes foram motivados em 30% dos casos por causa do ciúme, outros 22% por motivo torpe ou fútil e 11% por separação. A arma mais utilizada pelos agressores para matar as mulheres é a faca e o horário de maior ocorrência é entre a noite e de madrugada.
Na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) são registrados dois casos diariamente. E geralmente essas mulheres são espancadas pelo próprio companheiro. A situação ainda piora, quando as mulheres que não procuram a delegacia, e com isso entram os especialistas afirmando que a única forma de cessar essas agressões é procurando ajuda.
Essa delegacia expede uma média de 50 medidas protetivas por mês. Segundo o delegado da Polícia Civil, Roberth Alencar, a medida tem conseguido evitar uma violência continuada para a maioria das denunciantes, pois quando o homem percebe que a mulher vai denunciá-lo e levar o caso a frente, ele evita procurar a vítima.
“Ela trata essa determinação legal como uma ferramenta muito útil pra cessação da violência doméstica, principalmente quando ela se inicia. As medidas protetivas de urgência são os primeiros atos processuais que a polícia solicita ao judiciário como medidas cautelares que podem impedir a reiteração dos atos”, disse o delegado.
O movimento feminista critica as medidas protetivas, principalmente no interior do Estado onde as forças policias e o próprio MPAC não apoia a mulher quando ela busca a delegacia, além das medidas restritivas aos homens são falhas.
“Quem está na frente desses movimentos femininistas também sofre ameaças e ao mesmo tempo fica sendo um escudo dessas, e as vezes se tornam vítimas dessa violência de um sistema que nos mata. Já entraram na minha casa, já ameaçaram várias mulheres de movimento feminista, de movimento de mulheres no Brasil e no mundo a fora. Então, esse silêncio ele mata as mulheres e a gente põe na culpa, a culpa da morte dessas mulheres em cada um de nós”, concluiu Cabral.
Enquanto as estatísticas do feminicídio vão crescendo no Acre, a brutalidade dos crimes e a motivos para os crimes mostram que se faz necessária uma política mais forte na prevenção.
“A preocupação que deve ser levada em consideração no sentido de priorizar as políticas de proteção e de prevenção a violência doméstica”, concluiu Alencar.
Com informações de Adailson Oliveira para TV GAZETA